30 novembro 2005

O sistema semi-presidencial

Hoje, pela primeira vez no seu longo mandato, Jorge Sampaio recebeu um Orçamento de Estado sem se pronunciar uma só vez (directa ou indirectamente) sobre o seu significado, conteúdo ou importância. Nos últimos anos - desde os idos tempos do eng. Guterres - Sampaio chamou economistas, falou da vida para além do défice, apontou os desafios e aconselhou cuidados. Hoje não. Paciência.

O sistema proporcional

Hoje, pela primeira vez na história da terceira República, o Partido Socialista conseguiu aprovar um Orçamento de Estado sem precisar de ajuda de terceiros. Dada a posição dos restantes partidos na votação de hoje, dada até a ausência do deputado Manuel Alegre, é altura indicada para deixar uma perguntinha simples: não fosse a maioria absoluta de Fevereiro, o eng. Sócrates negociava o orçamento com quem?

29 novembro 2005

Prazer dos Diabos ou a Camisa Maoista de Louçã

Há um programa no cabo, SIC qualquer coisa, que tenta reeditar o espírito da má língua. Entre muita parvoíce e entradas de menos bom gosto, há 2 participantes que de vez em quando conseguem o que se espera de um programa daqueles. Falo de Boucherie Mendes e Pina.

A exploração semiológica da camisa encarnada Gant de Louçã (com a qual se deixou fotografar em inúmeras ocasiões) roçou a excelência. Das 2 uma: ou Louçã aderiu ao capitalismo que tanto ataca; ou por ser falsificação, está a contribuir para a economia paralela que tanto contesta.

Confesso que uma outra explicação avançada me satisfaz mais: Louçã através do consumo está a contribuir para a preservação do modo de vida de minorias étnicas que fazem da contrafacção o seu sustento. A ideologia fica preservada e a comunidade Romani agradece a publicidade.

Dica da semana

Nouvelle Vague, http://www.nouvellesvagues.com/francais/about.html, Marc Collin, Olivier Libaux e umas quantas cantoras. Entre remixes e originais lá continuam a fazer das suas. Há uns meses, segundo me disseram, estiveram no Lux. Perdi essa oportunidade. Da próxima não falto.

Arte Lisboa-I

Há coisas que fascinam uma pessoa menos sensível às artes quando visita um fórum da mesma. Passei pela Arte Lisboa. Gostei. É lógico que não consigo autonomizar tendências, absorver influências ou detectar futuras estrelas...cadentes ou não. Mas a estética não me é completamente estranha. Pelo que posso dizer que me impressionaram algumas das propostas e instalações que por lá vi. É natural que não consiga perceber a razão pela qual há artistas que colocam um violoncelo numa barra de aço a 2 metros de altura e lhe chamam arte, mas por essa razão é que eles o são e eu não.

Aquilo que verdadeiramente me transcende é a posição de alguns membros da audiência que olham para qualquer obra e dela extraiem significados que nem os artistas sob o efeito de cogumelos marroquinos pensariam ter incutido às suas criações. Quando lá estive, na Arte, aconteceu umas poucas de vezes.

E nestas ocasiões lembro-me sempre de algo que me aconteceu na Tate Modern: 2º piso, batalhão de japoneses com as mais avançadas câmaras digitais, retratando tudo o que pode ser retratado; de repente, um grupo de 6 pára de estaca junto a uma parede...flashada...flashada... flashada... flashada...falatório...falatório. Um pouco atrás alguns funcionários da Tate riam, da forma discreta e snob como só os funcionários da Tate o sabem fazer. O alvo da atenção e fascínio dos nipóncos era um dos extintores de parede "avant garde" de que a Tate dispõe, e que para o efeito tinha sido elevado a Pollock ou algo assim.

Com efeito Arte é aquilo a que quisermos dar um significado que vai para além da literalidade e que nos cria mundos dentro do mundo. "Ça c'est pas un pipe" pintou Magritte.

Parabéns à organização da Arte Lisboa.

28 novembro 2005

Se os meses fossem horas e o futuro já (aiii)

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

Os ex-líderes que queriam voltar a ser mas a quem só resta fundar um novo partido

Chamem-lhe futurologia política, mas se se confirmar a vitória de Cavaco, é muito natural que o PSD fique refém do Professor e que atravesse um deserto do tamanho dos 2 mandatos mais que inevitáveis.

Nesta lógica, para além da substituição do actual líder, verificar-se-á um descontentamento da faixa liberal do PSD que não se reverá no posicionamento, refém de centro-social, do partido, por causa do magistério cavaquista (era a isso que Cadilhe se referia).

É natural que nessa altura se criem as condições para a criação de um novo partido de centro direita onde se reunirão os descontentes liberais do PSD e do moribundo CDS-PP.

É nesta lógica que se compreende o artigo de sábado de Pedro Santana Lopes e o renascimento de Paulo Portas.

Chamem-lhe futurologia ou alucinação. Mas onde há fumo há fogo

Os candidatos a candidatos a líder do PSD

Depois de Manuela Ferreira Leite, é a vez de António Borges...é de ler a entrevista no Público de hoje. Não esquecendo o disponível Cadilhe.

25 novembro 2005

Smoke, no smoke

Parece o filme da minha vida. Vi-o no King, há muitos anos, e volta e meia regressa à minha memória viva. Desta vez, transformada até numa decisão muito à letra. Por que raio se haverá de abdicar de um prazer tão simples como fumar? Um prazer, um companheiro, esse cigarro. Faz mal? Claro que faz. E bem? Não fará também?

O filme, para quem se lembra, começa no cigarro mas acaba bem mais longe. Decisões, mais decisões, novas decisões. A vida, dirão muitos, é cansativa. Talvez não. Aos cigarros, como a outras coisas importantes na vida, podemos simplesmente dizer até já. Mas, tal como no filme, as decisões sobrepõem-se, as coisas compõem-se. Sempre.

A minha decisão do dia foi esta: voltei ao cigarro, seis dias depois. Triste? Não. Gostei da companhia. Take one, action.

P.S. Prometo ser comedido. Aprendi isso nos últimos dias.

24 novembro 2005

Grande dia, este

"31 de Dezembro vai ser o dia mais longo do ano.
Vinte e quatro horas e um segundo, no dia 31 de Dezembro - porque existem diferenças de milésimas de segundos entre os ponteiros dos relógios e o movimento de rotação da Terra."

*Tirado do site da Rádio Renascença.

Sondagens e jornais

A frustração de um profissional de sondagens, no Margens de Erro, já profusamente divulgados pela blogosfera. Vale sempre mais uma referência - porque eu próprio fiquei esclarecido.

Ó Jerónimo de Sousa, francamente!

Jerónimo, essa figura mítica da nação apache, defendeu a extinção da OTAN, vulgo NATO, durante uma das intervenções da pré-pré-campanha.

Como em tempos disse Ruben de Cravalho, durante a campanha autárquica de Lisboa e a propósito de um membro da lista do PS, Jerónimo é patusco.

Jerónimo tem um não sei quê de Noddy, de ursinho Puff, que por mais diabruras que faça levará sempre de nós aquele sorriso complacente. Para além de ser um verdadeiro Fred Astaire de Corroios.

Na mesma linha sugerimos que Jerónimo erga como próximas bandeiras as seguintes extinções:
-UE
-UEFA, FIFA e quejandas
-União Europeia de Radiodifusão
- Associação dos observadores de OVNIS da Serra da Gardunha

A "louca" de Freitas do Amaral e a presidência britânica da UE

Pacheco Pereira tem hoje no Público, um dos comentários mais pertinentes à "louca" que deu a Freitas do Amaral a propósito da presidência britânica da UE.

Não sabemos o que passou pela cabeça pelo chefe da nossa diplomacia. Mas que inviabilizou por muito tempo um bom relacionamento diplomático entre Portugal e o nosso mais antigo aliado, ai disso não temos dúvidas.

As relações entre Estados são definidas por subtis manobras desenvolvidas por trás do pano, ocultadas dos olhares mais indiscretos. A afirmação pública de algumas verdades é, desde a emergência dos media como actor principal da realidade politico-social, o penúltimo recurso (sendo que o último é a guerra) de pressão em termos de relações internacionais.

Como se viu pela inflexão recente da actividade internacional da administração Bush, nem as maiores potências podem esquecer estas regras.

Face a isto só me pergunto: o que é que deu a Freitas do Amaral?

Ou de facto, como diz Pacheco Pereira, confundiu as suas posições pessoais com aquelas do Estado Português; ou então, entrou numa fase de rejeição da sua posição de ministro de um Estado europeu membro da UE caracterizada por aquele sentimento de impunidade que atravessa as figuras megalómanas...é que Portugal não é, não tem, nem nunca vai ter, estatuto para se dar ao luxo de tomar estas posições.

Espera-se para breve, e por trás do pano (porque eles sabem como as coisas se fazem) a factura inglesa... Sócrates não perde pela demora.

25 de Novembro

Amanhã comemoraremos 30 anos do início real da nossa democracia. Porque a memória é curta!

Os terrenos da OTA- parte II

Respondendo à solicitação do Insubmisso e de outros blogs de referência (gaba-te cesto!!!)o Ministro Mário Lino anunciou que hoje vai colocar na interner através da NAER a lista dos 16 proprietários dos terrenos a expropriar pelo projecto da OTA. Mais informa que estes terrenos não sofreram qualquer alteração de propriedade nos últimos 5 anos.

Em antecipação informamos desde já que um dos maiores proprietários do local é o Grupo Espirito Santo. E sobre isso não fazemos mais comentários.

Mas, e há sempre um mas, muito gostaríamos que o Senhor Ministro nos informasse de mais algumas coisas, a saber:
-quem são os proprietários dos terrenos previsivelmente a expropriar por conta da construcção das acessibilidades ao local da instalação aeroportuária?
-quem são os proprietários dos terrenos não expropriàveis mas que vão servir de zona de apoio industrial indirecto à infraestrutura aeroportuária?
-quem são os proprietários dos terrenos não expropriáveis que vão servir de área de apoio industrial directo à referida infraestrutura?
-quem são os proprietários dos terrenos expropriáveis que vão servir para a instalação de entrepostos internacionais de mercadorias, vulgo plataformas logísticas?

Estas são as questões que humildemente pedimos a V. Exa que se digne responder com a mesma prontidão com que o fez relativamente à anterior questão


De V.Exa atentamente, aceite os mais elevados protestos da minha consideração

Sondagens

DN de hoje diz que Cavaco desceu vantagem e já não garante eleição à primeira volta. Público diz que Cavaco mantem vantagem e garante eleição à primeira volta.

Deve ser a isto que se chama informação esclarecedora, de serviço público e de referência.

23 novembro 2005

Koeman e a inovação

Eu não sei se repararam ontem naquele jogo que passou na RTP1.

Koeman não apostou no tradicional 4x4x2 nem num agressivo 4x3x3 ou mesmo num contido 5x4x1.

Koeman apostou num 8x2(?????!!!!)

Ou eu não percebo nada de bola ou o holandês é doido!!!

E perdi eu a portunidade de estar ontem com a pessoa mais fabulosa do mundo por causa disto!!!

Ora berlindes Sô Koeman! Não me apanham noutra!!!

As absurdas declarações de quem tem que se fazer notar

ILGA: proibição do sacerdócio aos homossexuais é "mais um erro histórico" da Igreja Católica
A associação de "gays" e lésbicas ILGA Portugal lamenta a proibição da ordenação religiosa de homossexuais imposta pelo Vaticano e classifica esta decisão, que será oficializada na próxima semana, como "mais um erro histórico" da Igreja Católica e um retrocesso em relação às orientações de outras igrejas. (público, 23.11.2005)


Ainda gostava de saber qual seria a reacção da ILGA se porventura algum cidadão se pronunciasse sobre a necessidade de heterossexuais serem membros obrigatórios da sua associação. Cada associação de homens e mulheres livres institui as regras que acha conveniente e adequadas ao núcleo de crenças e valores em torno do qual se organiza. Ninguém, mas abolutamente ninguém, tem nada a ver com aquilo que essa associação livre de homens e mulheres livres determina como suas regras. Quem não gosta não entra, quem não concorda não entra e tem tanta legitimidade para criticar como legitimidade para ser criticado.

Eu que sou heterosexual gostava de ser presidente do ILGA, para pôr ordem naquilo!! E agora o que é que os ILGAS têm para me dizer?!

Os terrenos da OTA

Circula na internet informação de que altos dirigentes do PS e empresários tradicionalmente ligados ao financiamento do partido serão muito beneficiados com o lançamento do aeroporto da OTA devido ao mais que esperado movimento especulativo a ele associado. Isto não é uma informação fidedigna, nenhuma fonte credível ainda me confirmou esta informação, nem tenho hipótese de o confirmar no curto prazo. Muito gostaria que os grandes jornalistas de investigação deste país muito rapidamente pudessem esclarecer este assunto para que a reputação de algumas pessoas (cujo nome já está a circular como associado a isto) não seja manchada pelas tradicionais disseminações de boatos e rumores do nosso país. Falo dos jornalistas, porque já não confio no Ministério Público para investigar assuntos associados aos ocupantes de cargos públicos. "Please, ó fazedores de primeiras páginas, esclareçam-me!"

OTA

Estive a fazer umas contas. Barajas vai ficar a 1 hora e pouco de Lisboa de TGV. Os custos aeroportuários espanhóis são em todas as circunstâncias mais baratos do que qualquer estudo de viabilidade dos vários apresentados ontem. Se os espanhóis avançarem com mais um aeroporto internacional entre Madrid e Lisboa, as coisas ainda ficam mais complicadas

Há 2 razões para as pessoas escolherem a Portela: localização e tempo de deslocação aos locais motivadores da visita. Não o tempo real mas o tempo profissional (início de reuniões e dia profissional). Se estes motivadores se perderem perde-se o negócio do tráfego internacional. E se entrar a OTA não me enganarei ao dizer que os espanhóis, que têm uma visão estratégica destas coisas que falta aos portugueses, responderão competitivamente tentando queimar ainda mais os nossos aeroportos. Acho que há ainda muita coisa a explicar nesta ultra-pressão para lançar a OTA.

Mentiras

Depois da cena de ontem das duas uma:
Sócrates está a mentir;
Manuel Alegre está a mentir.

Não há mais nenhuma hipótese.

Seja qual fôr a resposta, um é mentiroso, e a situação é uma vergonha.

Vergonha para o PS, vergonha para o PM, vergonha para um candidato presidencial que representa, aparentemente, uma faixa substancial de eleitorado.

22 novembro 2005

O sr. Pinto de Sousa

O pai do primeiro-ministro, o sr. Fernando Pinto de Sousa, publica hoje uma nota no DN, defendendo o seu filho dos ataques de Paulo Cunha e Silva. Diz que José, seu filho, teve uma educação superior, que teve sempre óptimas notas, que luta por uma sociedade mais justa. Eu li e fiquei fã. Por mim, um voto para o sr. Pinto de Sousa.

18 novembro 2005

Dica da semana

Beber um balão de Cragganmore ligeiramente aquecido ao som do último ep dos Pink Martini, reler passagens de Mário de Sá-Carneiro e bafejar um Romeo & Julieta não calibrado...não necessariamente por esta mesma ordem.

Tessa was my home (aiiiiiiiiiii)

O Fiel Jardineiro.

Fui ver no outro dia este novo filme do Meirelles.

Grande realização. "Breathtaking".

Final Shakespeariano e com uma das melhores frases sentimentais que nos últimos tempos ouvi: a certa altura o protagonista, a quem tinham assassinado a mulher Tessa, quando lhe sugeriram o retorno a casa, responde: "Tessa was my home".

Quantos de nós não esperam uma vida inteira para, ditado verdadeiramente pela consciência, dizer isto sobre alguém (aii). Uns têm a sorte de conseguir, outros andam lá perto.

A propósito de E.P. Coelho

O inefável Prado Coelho escreveu há dias no Público uma peça crítica sobre as atitudes e mentalidades dos portugueses. Por muitos aclamada, a peça em questão, que julgo nos foi deixada em comment aqui no Insubmisso, fazia um apelo final à consciência cívica dos portugueses.

3 comentários se impõem:
1- EPC mais uma vez demonstra estar viçoso, rebolante e luzidio;
2- EPC demonstra um apreço por uma ética republicana de matriz ontológica kantiana que, para quem o tem acompanhado nos seus escritos, representa mais um fantástico flic-flac à rectaguarda (o que atendendo à imagem de rebolante e luzidio, se afigura engraçado de imaginar), com saída em prancha, no seu percurso em termos da discussão dos temas da filosofia moral e da filosofia (ou teoria) política em particular, que o desligitima nas suas (EPC) críticas a algumas outras figuras do comentarismo nacional
3-EPC tem uma visão sobre o cidadão ideal da repúlica ideal. Mas esquece-se que estamos em Portugal, e que Portugal é o que é pelo rasto cultural de que se ergue. E nestas circunstância sempre me recordo de 2 reflexões sobre este país, uma clássica e outra contemporânea:
- "um país que começa com um filho a bater na mãe não pode acabar bem"
- de um extracto de um relato de um governador romano instalado na Lusitânia enviado a Roma "aqui nesta província da Lusitânia, reside um povo que não se governa nem se deixa governar"

17 novembro 2005

Concorrência nas Farmácias

Finalmente. Uma das pesadas heranças do corporativismo pré-25 de Abril começa a contar os seus últimos dias. Não consigo perceber porque é que a propriedade das farmácias não podia, até hoje, ser de alguém não farmacêutico ou porque é que havia uma gestão monopolista dos processos geográficos da sua localização. Dir-me-ão que questões técnicas e científicas são de rigorosa importância neste sector. Mas mesmo assim a questão técnica não viola nem colide com a questão proprietária, nem é colocada em causa a segurança do consumidor/paciente. Admiro a forma como a ANF conseguiu, apesar do "monopólio" que detém, modernizar o sector (pelo menos os seus associados). Confesso que acho piada ao modo despudorado como João Cordeiro afronta tudo o que é agente de saúde deste país, seja ele Ministro ou outros. Mas a medida que é prenunciada pela declaração da AAC, permite vislumbrar dias mais claros para os consumidores portugueses. E mesmo que a concorrência internacional entre, ou que grandes concentrações comecem a ocorrer, somos nós todos que sairemos beneficiados. Os bons continuarão a prosperar, os maus terão a sua sorte...desde que a AAC garanta que as regras da concorrência são cumpridas.

00:08:25 de 17.11.2005

Porque há horas que é o melhor presente que um homem pode ter.

Dedicado à minha raíz, ao Sul

"Ao sul
À procura do meu Norte
Subo as águas desse rio
onde a barca dos sentidos
nunca partiu

Lá longe
Inventei o dia azul
E o desejo de partir
pelo prazer de chegar
Ao Sul

Cada um tem a sina que tem
os caminhos são sempre de alguém
Ao Sul

Ao Sul entre dois braços abertos
Bate 1 coração maltês
Que se rende, que se dá
De vez

Por amor
Corto os frutos que criei
Corto os ramos que estendi
Pela raiz que abracei
Ao Sul"

João Monge- Ala dos Namorados

16 novembro 2005

Portugal positivo

Em conversa recente com o LR, decidi procurar motivos para - de quando em vez - avançar com umas notas sobre o que há de bom no nosso país. Hoje, lembrei-me de duas.

1. A economia portuguesa vai crescer 0,3% este ano. Não é bom, mas podia ser pior.
2. O desemprego, segundo o INE, está nos 7,7%. É o número mais alto da série mais recente do INE, iniciada em 1998 - mas, ainda assim, também podia ser pior.

Os leitores que compreendam: fazer notas sobre o Portugal positivo, nos dias que correm, obrigavam-me a falar na selecção nacional. E essa, ontem, também empatou.

15 novembro 2005

Actos de fé (II)

1. O JPH diz que admiti "a contragosto" que a entrevista de Cavaco foi má; O FTA critica-me por ter dito pouco; Já o Pedro Adão e Silva garante que, sendo eu "insuspeito", fui duro com o professor. Feita a média, acho que sim e que não. Mas agradeço a publicidade - hoje estivémos quase ao nível do Mau Tempo e do Glória Fácil. É caso para dizer que Cavaco vale mais audiências que Soares.

2. Para encerrar polémica, o que me parece (a esta distância) é que a estratégia do silencio de Cavaco Silva é muito arriscada. É certo que Sócrates a usou, conseguindo uma maioria absoluta. Mas também é verdade que nem tudo é igual:

a) Sócrates,para ganhar a dita maioria, só precisava de 44% dos votos; Cavaco precisa de 50,1%.

b) Sócrates contava com uma maioria sociológica de esquerda; Cavaco sabe que essa, em dúvida, estará do outro lado;

c) Mais importante que tudo: Sócrates tinha como adversário Santana Lopes, de que todos tinham memória bem presente e bem recente; Cavaco tem do outro lado Mário Soares, que pode estar deslocado mas não é, certamente, apontado como um perigo para ninguém.


O silêncio do professor pode ser bem confortável. E até mesmo ser suficiente para ganhar (assim a esquerda continue a cometer os erros das últimas semanas). Mas seguramente não é garantia de vitória.

E o meu coração continua sem bater

C'est tout

Sampaio põe o dedo na ferida quanto ao ensino superior

Deve ser das poucas vezes em que vou concordar com Jorge Sampaio.

O nosso PR ontem em Leiria, deu cabo do nosso sistema de ensino superior. E é essa a verdadeira razão do nosso atraso económico. Numa outra ocasião irei falar sobre este tema, ao qual desde o início do Insubmisso me tenho escapado, já que sou parte envolvida. Mas a vergonha do nosso ensino superior, merece acções vigorosas que aindam não vejo reflectidas na proposta para a nova Lei de Bases. Mais uma vez, como em tantas outras áreas de políticas públicas e em tantos outros momentos, Bolonha obriga o sistema de ensino superior a movimentar-se. Como em tantas outras áreas de políticas e em tantos outros momentos, os vergonhosos lobbies do ensino superior estão a defender os seus interesses esquecendo-se das peças centrais de todo o sistema: a formação de futuros profissionais e a evolução do conhecimento; demonstrando, com isso uma miopia estratégica que nos irá conduzir, inevitavelmente, a mais atrasos.

O nosso desenvolvimento não se compadece com estas atitudes caducas e corporativistas.

Armada pune presidente da Associação dos Praças

A Armada actuou e bem ao colocar em detenção por 3 dias, Luis Reis da supracitada associação. É nesta ocasião, e no vigor da decisão do CEMA, que nos recordamos que em 1972 e 1973 semelhantes movimentações militares estiveram na génese do chamado MFA, posteriormente aproveitado pelas forças políticas de esquerda e extrema-esquerda para dar uma coloração política às reivindicações laborais de oficiais e praças do Exército Português e que teve como corolário a revolução de 1974. E embora a mudança ocorrida em 1974 seja inestimável e seja impensável a sua colocação em causa, é também certo que a forma como a transição à democracia ocorreu no nosso país nos atrasou enormemente face aos nosso congéneres europeus.

Num Estado de Direito Democrático as Forças Armadas têm o seu lugar. É bom não nos esquecermos disso.

Manuela Ferreira Leite e o OGE

Com a entrevista de ontem à RR, Manuela Fereira Leite já se está a posicionar para suceder a Marques Mendes. A afirmação de que se teria abstido na votação na generalidade, e que pagaria para ver o que o Governo consegue fazer, ficando a aguardar para ver os resultados da execução, é uma atitude de prudência, maturidade e visão política que faltou à actual bancada parlamentar do PSD e à sua liderança. Isto promete.

Resposta ao FTA em sete pontos

1. Engraçado ver-te a criticar a concertação social e dizer que o 14º mês de salário é o monstro. Acho que trocaste de posição com o Cavaco, não?

2. Negociador de fundos vs. adesão. Tens razão na segunda, não na primeira. As negociações de Cavaco foram, como as de Guterres, bem sucedidas. E isso é um argumento.

3. Cavaco não faz da política a sua profissão, nunca precisou dela para ganhar dinheiro. Desculpa, Francisco, mas aí acho que o homem tem razão.

4. Ele não ataca os outros agora. Se mudou de opinião, fez bem.

5. Quanto ao vazio, é exactamente o que eu digo no meu post.

6. Dou-te razão no têxtil, nos poderes, na retórica e na fuga às respostas.

7. e último: se queres que seja honesto, o que não vejo é ninguém à esquerda a criticar os candidatos (Soares incluído) como a direita faz com Cavaco. Isso é que não vejo.

D.D.

Actos de fé

A entrevista de Cavaco Silva, ao contrário do que se vai dizendo por aí, não foi patética, nem desonesta, nem arrogante. Não foi, simplesmente porque a entrevista... não foi. Cavaco Silva, ontem na TVI, não foi, nem sequer quis ser. Optou pelo silêncio, total, sem concessões. O resultado, óbvio, foram algumas contradições e outras tantas incoerências. Alguns exemplos:

1. Cavaco diz que é cedo para avaliar o Governo. Diz também que não pode avaliar o primeiro-ministro porque cabe a Sampaio, até Março, esse papel. Mas a verdade é que o próprio Cavaco já avaliou este mesmo Governo em algumas ocasiões. Fez isso quando Campos e Cunha saiu, criticando, e também quando Sócrates manteve a promessa de referendar o aborto, elogiando.

2. Cavaco diz, também, que quer remar ao lado do Governo em matérias decisivas para o país. Promete cooperação. Mas, depois, é-lhe perguntado se teria aceite remar ao lado de Guterres, que tanto criticou. E não responde. É uma incoerência, tão só custo de um silêncio forçado. Porque é óbvio que Cavaco não ficaria ao lado de Guterres, porque é óbvio que Cavaco só aceitará remar ao lado de Sócrates se - e apenas se - Sócrates quiser remar na mesma direcção que ele.
O Governo e o Presidente podem bem estar de acordo quanto aos objectivos. O problema será, como sempre foi, quando não estão de acordo quanto às políticas para os atingir. Mas isto Cavaco não disse e não dirá.

3. Já agora, os cartões vermelhos. Constança Cunha e Sá - uma vez mais no ponto certo - lembra o professor que foi ele próprio quem pediu um cartão vermelho a Guterres, nas autárquicas de 2001. Diz agora Cavaco que Guterres fez mal em sair. O mesmo Cavaco que alertou - e bem - para o descalabro para que Portugal caminhava sob a orientação do engenheiro.


Dito isto, o problema da entrevista de Cavaco é a evidência de que algo vai mal em terras de Portugal. O professor considera que a melhor maneira de vencer eleições é falar o menos possível - assim como Sócrates o achou e acabou por conseguir uma maioria absoluta. Percebo a tentação, mas não posso aceitar a tese: é que, assim sendo, as eleições em Portugal tornam-se um acto de fé.

Acreditamos, porque sim, que X é o candidato certo e que Y é o candidato errado. É um caminho errado da nossa democracia, não só porque não sabemos no que estamos a votar, mas também porque nos será impossível pedir contas a quem é eleito. É triste, mas as presidenciais estão transformadas nisto: meros actos de fé. Rezemos, então.

14 novembro 2005

Monsieur Soarez

"Há poucas vozes hoje na Europa que tenham autoridade e eu acho que tenho uma voz que é ouvida, porque quando vou a qualquer país europeu e falo as pessoas escutam o que digo"
Mário Soares, hoje em campanha.

Acho que isto, por si só, explica porque os portugueses preferem o silêncio, não?

As obsessões de Mário Soares

obsessão:
do Lat. obersione

s. f.,
impertinência excessiva;
preocupação constante;
perseguição insistente;
ideia fixa;

Teol.,
estado de pessoa que se crê atormentada e perseguida pelo espírito maligno.

Há que informar que a obsessão que o Dr. Mário Soares mantém pelo discurso do Professor Cavaco Silva, me preocupa mas é nosso dever informar que tem cura. Para os racionalistas isto passa por uma consulta psiquiátrica. Para os transcendentalista por um exorcismo. Atendendo a que não me parece que estejam esgotadas as oportunidades terapêuticas de carácter científico, admito que a segunda solução seja, para já, a nosso ver, extemporânea. Relativamente à terapêutica psiquiátrica, ocorrem-me de rajada 2 nomes de reputados especialistas: Margalho Carrilho e Daniel Sampaio. Já que o campo das obsessões e dos fetiches se desenvolvem na adolescência ou se manifestam tardiamente fruto de traumas não resolvidos nessa altura, somos de opinião que a escolha deve recair em Daniel Sampaio, profissional com provas dadas na matéria.

09 novembro 2005

Mundo virtual

1. Se o que se está a passar, há 13 noites consecutivas, fosse nos Estados Unidos, o que se diria sobre o "modelo económico norte-americano".

2. Se a cedência de um Governo a alguém, num orçamento de estado, fosse noutro Governo, noutros tempos - recuando até Guterres - o que se diria sobre a "ética republicana"?

07 novembro 2005

De battre, mon coeur s'est arrêté

De vez em quando o nosso coração pára. E só nos resta esperar que ele volte a bater.

O Congresso da Nova Evangelização

Dizia o meu sábio pai que se a Igreja não fosse uma obra de Deus não teria resistido àquilo que os homens lhe fizeram. Sabia do que falava. De vez em quando a história vem ilustrar, por vezes pela excepção, esta máxima. Este Congresso é dessas iniciativas. O meu único desejo é que as suas conclusões possam, tal como em outros momentos determinantes da história do mundo, passar as paredes do congresso. O espírito do Congresso e a capacidade e sensibilidade de D. José Policarpo têm muito a dizer ao mundo de hoje, mundo que se contorce com as dores de crescimento mais agudas havidas desde meados do século XX. É um contributo que não se pode perder, como tantos outros úteis, que vindos dos mais diversos quadrantes intelectuais, tentam compreender a falência moral do nosso tempo.

03 novembro 2005

Decida-se Dr. Soares

"Mário Soares considerou ontem que Cavaco Silva "tem uma concepção da democracia, como político intermitente que é, que é muito pouco estruturada". Para o candidato presidencial apoiado pelo PS, "ser político intermitente não é uma boa garantia para os eleitores". Como exemplos, Soares apontou a estratégia de Cavaco, que se quer "resguardar no silêncio" e fugir a debates, bem como "alguma displicência" com que trata o PSD." DN de hoje


OU BEM QUE O HOMEM É POLÍTICO PROFISSIONAL OU BEM QUE É INTERMITENTE!

A entrevista de Mário Soares

Senti-me mal ontem ao ver a entrevista de Mário Soares. Senti pena.

Ao contrário do que já li algures não vi um homem combativo. Vi um homem desesperado a debater-se para sair das areias movediças. Vi um homem num recinto de feira a apregoar tachos e panelas. Vi um homem panfletário e, sim, revanchista a contar uma história de papões. Vi um homem a ofender gratuitamente a honorabilidade de outros. Vi um homem a denegrir gratuitamente e insustentadamente outro para benefício pessoal. Vi imodéstia onde deveria estar nobreza. Vi raiva e ódio onde deveria ter existido a tradicional bonomia. Vi um disruptor onde deveria haver concórdia. Vi incoerência discursiva, narrativa e fática. Vi uma sombra daquilo que dele já vi.

Foi mesquinho, foi obcecado, foi baixo, foi indiscreto, foi indelicado, foi...simplesmente foi (como tão bem disse o amigo DD).

Continuo sem decidir em quem vou votar (obviamente refiro-me aos restantes candidatos) mas para Presidente eu não quero uma pessoa assim.

P.S. Eu tenho mais de 10 artigos publicados na área das humanidades será que sou mais elegível do que Cavaco Silva para ser Presidente?

Has been

Primeiro, a confissão: Mário Soares deu-me os melhores momentos do dia de ontem. A entrevista à TVI (muito bem, D. Constança) foi viva, interessante, política.

Passando ao que interessa, Mário Soares está a tentar reviver o seu combate político mais simbólico. Quer que Cavaco seja Freitas, quer que 2005 seja 1986. Não é. E esse é o primeiro erro estratégico do ex- Presidente. Nestas eleições a luta não é esquerda-direita - é de personagens. E também já não há Eanes, já não há bloco central, nem sequer o fantasma de Marcello Caetano para assombrar um candidato.

Dois. Soares ataca Cavaco, dizendo que este não é unânime à direita. Para tal, recupera os nomes de Paulo Portas e Santana Lopes. O primeiro, Soares dizia que era de extrema-direita, um perigo para a democracia; o segundo, dizia que era a vergonha do país. Agora, servem de barómetro para mostrar que Cavaco não é unânime. Pois bem, valha a coerência táctica, contra o deserto estratégico.

Três. Soares diz que deixou os "cofres cheios" a Cavaco em 1995. E que Cavaco é o "pai do monstro". E diz que Cavaco governou sempre em crescimento económico. Faltava dizer que quando isto não aconteceu, Soares não o deixou governar em paz - o que deve constituir um sério aviso a Sócrates, by the way, que não terá sorte com a maré económica. Quanto aos cofres cheios, só pode dar vontade de rir - mesmo que se reconheça o mérito de quem, sob pressão intensa do FMI, fez alguma coisa do que tinha de ser feito. O pai do monstro, esse, deixo para os especialistas em John Carpenter.

Quatro. Soares diz que Cavaco deixará em aberto o fantasma da dissolução da AR. Mas também diz que é independente do PS. E, já agora, que o PS chamou por ele. Ah! E que Sócrates é uma muito boa surpresa. E que os portugueses não podem perder direitos. Mas que os portugueses não podem manter regalias. So much for coerence.

A entrevista de ontem, perdoem-me a expressão, pode bem ter-me divertido. Mas confesso que me lembrou uma velha expressão britânica. Has been.

Detesto ter razão

Há uns dias escrevi um post sobre o belo trajecto que se desenhava para a campanha presidencial. Ataques pessoais: muitos, bons e quentinhos. Discutir soluções para os problemas do país: zero. (Eu acho que já vi esta cena num episódio do gato fedorento).

Ontem, a entrevista do dr. Mário Soares veio confirmar o meu prognóstico. E desmentir uma outra convicção minha: de que o dr. Soares tinha idade para estar em casa, com o cobertor sobre as pernas, a brincar com os netos. Na arte de maldizer, o dr. Soares tem mais energia e imaginação do que qualquer jovem na flor da idade.

Conclusão, reafirmo a minha anterior posição: um voto em branco para a urna.

Barcelona, Espanha

Tendo a concordar com o Bruno, aqui em baixo. Mas a Autonomia Catalã merece a minha mais profunda reserva.

Primeiro, porque existe uma nação chamada Espanha, que será rapidamente fragmentada com este processo.

Segundo, porque existe uma nação chamada Portugal, que pouco será sem que a primeira subsista, sem que a primeira permita uma ligação ao centro da Europa - com uma Espanha dividida, Portugal será cada vez mais os Açores (faraway too close to modernity).

Terceiro, porque o processo de construção europeia pode estar parado, mas acabará por dar novos passos - tão só porque não há outro caminho para um mundo melhor senão seguir em frente. E a divisão das nações existentes, seguindo um caminho de outros séculos, já provou não ter resultados benféficos para ninguém.

Claro que me podem responder que ando a ler Vasco Pulido Valente a mais nestes dias. Mas temo que o meu pessimismo não passará com a crise catalã. E logo eu, que tanto gosto de Barcelona.

O principio do fim do Estado espanhol…

(post dedicado ao amigo Luís Rosa)

O parlamento espanhol decidiu avançar com a revisão do estatuto da Catalunha. Para o povo lusitano, é a melhor notícia dos últimos tempos – e não o regresso da chuva (e das inundações). O que está em cima da mesa é de tal ordem relevante que poderá ser o princípio do fim do Estado espanhol. Recomendo a leitura do Público de hoje e dos sete pontos da proposta catalã. Resumindo, caso a proposta seja aprovada como está, a Catalunha passará a ser uma verdadeira Nação, com poderes totais em domínios como a justiça, a cobrança de impostos e outras questões importantes em termos administrativos. E a aprovação da proposta catalã é uma hipótese cada vez mais provável, já que para tal é apenas necessária uma maioria absoluta e não de dois terços.

Confesso a minha ignorância sobre as tácticas da política espanhola. E, portanto, não sei se Zapatero não percebe o alcance do seu apoio à proposta vinda da Catalunha e não compreende que está a abrir uma caixa de Pandora que levará ao fim de Espanha – como poderá negar direitos semelhantes a outras regiões como o País Basco, a Galiza ou Navarra – ou se está a ser míope, querendo apenas garantir o futuro próximo do seu Executivo. Afinal está refém da Esquerda Republicana da Catalunha nas Cortes de Madrid. O futuro responderá à minha questão.

O que sei é que o Sr. Zapatero arrisca-se a merecer uma estátua em Aljubarrota por conseguir sozinho o que Portugal nunca teve coragem para tentar. O líder socialista parece a minhoca que está a roer a maça por dentro. Já vejo um novo problema para Durão Barroso, com um novo processo de alargamento na Europa, com mais uma série de Estados a quererem apoios.

Contudo, este gostinho especial reside apenas na vingança histórica, porque há um aspecto – o fundamental – em que ainda temos muito que trabalhar. Falando de memória sobre as últimas sondagens que vi, Portugal continua a ser menos desenvolvido do que qualquer região espanhola. Mas o primeiro passo para a conquista já foi dado e por eles.

Sobre o referendo ao aborto, parte III e última!!!

Centrar-me-ei na fundametação política para a manutenção do actual quadro legal:

a) A American Medical Association, entre outras, (com estudos veiculados em diversas revistas cientificas e de de divulgação) aceita a existência de vida humana com uma definição muito precisa. A apresentação deste argumento cientifico é essencial para a argumentação política.
b) Portugal é membro das Nações Unidas subscreveu os tratados de forma voluntária e responsável e por tal submete-se aos seus quesitos e clausulados nos termos previstos no Direito Internacional. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artº 3, refere-se o direito à vida. Pelo que não compreendo a possibilidade de questionar a aplicabilidade de uma norma fundamental para o Estado Português.


Recorrentemente, a argumentação contrária à manutenção do actual quadro legislativo centra-se nas questões da aplicabilidade do mesmo. Ora se refere a falta de estruturas de apoio de carácter social, ora aquelas de carácter material-financeiro, ou ainda as de saúde pública. Mas se não estou enganado então estamos face a um problema regulamentar e não legal. Se a lei está correcta mas a sua aplicação-operacionalização está a ser impossibilitada pela falta de condições de estruturais ou infra-estruturais, mudem-se os regulamentos e não as leis

3º Uma das razões do surgimento do Estado enquanto figura institucional é a manutenção da ordem e da segurança na perspectiva da defesa da integridade, não dos fortes e poderosos, mas antes daqueles que menos recursos têm e menos capacidade têm para se defenderem. Pelo que a preservação da vida, em particular dos mais inocentes e desprotegidos, é um dever fundamental do Estado e não o seu contrário.

02 novembro 2005

Sobre o referendo ao aborto, parte II

Não há nada como ser questionado para poder esclarecer posições. Irei responder em diferentes posts aos diferentes comentários que me foram efectuados a propósito da minha tomada de posição sobre o referendo ao aborto.

As respostas serão relativamente às diferentes ordens de razões que aleguei para fundamentar a minha posição, a saber: científicos, sociais, morais e políticos. Não aleguei razões religiosas pelo que não utilizarei argumentos de carácter religioso para defender a minha posição. A minha primeira resposta incide sobre o post de IDS que, valha a verdade, é o menos exigente e por tal o mais simples de ser respondido, embora seja um comment que, na minha opinião, degrada a posição feminina quanto a estas matérias.

1º comentário
"IDS said...
Eu às vezes pergunto-me: porque que é que os homens querem tanto falar do aborto? Porque não deixam isso por mãos dignas? Não será esse tema da estrita competência de senhoras... O facto de se referendar... não significa que se vá continuar ou deixar de abortar.Infelizmente... "


Resposta:
Desde quando è que a maternidade é uma questão que diz respeito exclusivamente às mulheres? Eu não sei que homens V. Exa. conhece, mas tenho pena que não tenha conhecido homens que vivem a maternidade de uma forma madura, consciente, responsável e humana, e que a consideram a forma mais elevada de amor.

Pergunta V. Exa. porque não deixam os homens a questão para mãos dignas? E se não será esse tema da estrita competência de senhoras?

Em primeiro lugar a questão da dignidade das mãos, prende-se mais, na minha opinião, com a qualidade do hidratante e com a firmeza da mão do manicure, tendo, por isso, pouco a ver com a questão em apreço. Relativamente à competência para tratar da questão ser da competência das senhoras, digamos que é uma questão interessante, e alegarei em minha defesa, em jeito de brincadeira, que a legitimidade dos homens é a mesma que a das mulheres para se pronunciarem sobre charutos ou automóveis, ou mesmo aquela da reputada investigadora norte-americana para anunciar ao mundo as suas descobertas no campo da urologia. (peço desculpa pela brincadeira, sobretudo sobre um tema tão importante, mas esta parte do comment só pode ser respondido assim).

Somos seres humanos e estamos a lidar com questões relativas à vida humana, pelo que a legitimidade para discutir o tema se encontra à partida definido.

Sou a favor do referendo, desde que sejam cumpridos os requisitos para este ser efectuado. A minha tomada de posição é clara: não estou contra o referendo; valido-o como instrumento de aferição em sede democrática; tomarei posição pública, no quadro legal vigente, e por tal utilizarei os instrumentos que estão ao meu alcance para defender a minha posição e para informar quem não está informado sobre o que está em causa nesta pretendida iniciativa legislativa. Não farei as minhas alegações neste blog.