21 dezembro 2006

O debate mensal

1. Sócrates apostou bem na reforma do ensino superior português, que bem precisa de ser reformado. É, aliás, a última grande reforma no horizonte do Executivo socialista. Os próximos debates mensais, a partir de 2007, tenderão a ser bem mais difíceis. Depois dos anúncios, vem o tempo da prestação de contas. Um tempo longo, que exigirá mais do que palavras, mais do que intenções.

2. Ainda sobre o Ensino Superior, as linhas gerais da reforma, se bem que tardias, vão no sentido certo. Poderiam ser mais ambiciosas - é certo - mas são um bom primeiro passo. Marques Mendes, por seu lado, fez exactamente o que se exigia: pediu mais determinação na ligação das universidades à sociedade. Faz sentido, marca uma diferença e não perde tempo com demagogias. Bem melhor do que tem estado, Mendes marcou pontos numa altura em que é desafiado dentro do partido. Segue para Natal descansado e bem pode seguir o conselho de José Miguel Júdice: ir passear para a praia, de mão dada com a sua mulher.

3. Central no debate de hoje foi a questão da ERSE. O Governo foi acusado de tirar a palavra ao seu ex-presidente e até de interferir na reguladora. Sobre isto, Sócrates mostrou o que tem de melhor e o que tem de pior. Primeiro, defendeu com unhas e dentes a limitação (pelo Governo) dos aumentos de preço da electricidade. Acredita nisso piamente e desafiou quem o critica a dizer se faria diferente. Como ninguém o disse, saiu bem do problema...

4. ...Ou não. É que, no meio de tanto ataque, Sócrates não resistiu a acusar Marques Mendes de querer interferir na nomeação dos presidentes das entidades reguladoras antes de ser Governo. Para Sócrates, assim, o cargo de regulador é um cargo de nomeação governamental como qualquer outro. Não faz questão de manter, sequer, as aparências de isenção e independência. É pena. Já sabíamos que o Governo não lida bem com entidades independentes (nenhum lida). Agora, ficamos a saber que, por vontade de Sócrates, nenhuma o será. Em circunstâncias normais, seria uma má notícia para a oposição. Em maioria absoluta, é uma péssima notícia para o país.

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