31 janeiro 2005

El Rei D. Sebastião

Li nos jornais que o mestre Manuel de Oliveira voltou no seu melhor. Fala, desta vez, do mito de El Rei D. Sebastião. Elogiam-se os actores, o argumento, tudo mas tudo. E tem-se esquecido o timming do filme.

É certo que Oliveira o rodou há um ano - e que já passou em Veneza. É certo, portanto, que ninguém podia prever a altura em que apareceria nos ecrãs portugueses - nem mesmo o Zandinga o poderia fazer, tal a sequência de imprevisíveis que se verificam de há um ano para cá.

Mas, visto à luz de hoje, não há altura melhor para o país olhar para o seu íntimo. O mito de D. Sebastião perdura nos portugueses como um vazio no seu estômago. E isso mostra-se em tudo, do futebol à política, alimentando a depressão natural de quem precisa de um rumo e de um líder.

Outros países há que cedo aprenderam a sobreviver sem o estadista que se segue, até mesmo sem o Estado que querem ver diminuído ao mínimo. Por cá, continuamos a olhar à volta, à espera que alguém nos tire do beco sem saída.

É por isso, julgo, que se houve uma e só uma pergunta nos dias de hoje: "mas eu voto em quem?"
À falta de melhor resposta, o melhor é ver o mestre Oliveira. Não resolve o problema, mas descansa a alma.

Democracia

Houve votos no Iraque, pela primeira vez.
Não é preciso muitas linhas. Basta dizer que é bom. Bom para o Iraque e bom para o mundo. Bom, também, que os votos não fossem adiados, assim como não foram em Timor.

Gostava de ouvir a velha Europa dizer isso mesmo, só por uma questão de coerência. Acrescentando que o mais difícil começa agora. A comemoração da democracia só deve ser feita quando esta é estável e não reversível. Que seja o caso.

29 janeiro 2005

Campanha alegre III

O PPD/PSD acabou de colocar uns cartazes novos pelo país.
Rezam assim, com a cara de Santana Lopes:
"este sim, você já conhece".
Pois. Mas era mais directo assim:
"Este sim, você já conhece. Já comeu e não gostou".

Será que o senhor acha mesmo que o que as pessoas conhecem dele o beneficia?!
Será que ele não percebe que é exactamente o contrário?!

P.S. Já há uns meses que disse isto, mas o DN de hoje ajuda à tese: a única maneira do PSD conseguir ganhar votos nesta campanha é colocando em causa a decisão do Presidente da República. Para se votar em quem não se gosta, só se esse voto for contra quem ainda se gosta menos. É da psicologia, mas também da política.
O pior é quando se passa mês e meio a dar razão ao PR. Mas isso é outra história.

28 janeiro 2005

Campanha alegre II

Santana Lopes admitiu hoje que teve dívidas às Finanças relativas a juros e justificou que isso pode acontecer a qualquer cidadão que vive do seu salário.

Bagão Félix acredita absolutamnete que o primeiro-ministro tem a sua situação fiscal regularizada e diz que a notícia aparaceu para prejudicar Santana na campanha.

Sampaio chamou o presidente da Autoridade da Concorrência para discutir a venda da Lusomundo, temendo concentração nos media.

José Sócrates teme que aos ataques de Bagão a Freitas do Amaral sejam retaliação pelo seu apoio ao PS.

PSI20 ganhou 0,9% na última semana.


Conclusão: A campanha corre bem e segue o seu caminho.


Campanha alegre I

1. Freitas do Amaral apoia o PS. Não surpreende ninguém. É a evolução natural das coisas. Mais, Freitas do Amaral defende uma maioria absoluta, como forma de responsabilizar o PS. Não surpreende ninguém. Não foi ele candidato presidencial apoiado por uma? Não foi ele nomeado presidente da assembleia-geral da ONU por uma? Então estamos conversados. É um sinal dos tempos, não é notícia (e com isto nem sequer digo se concordo ou não).

2. Ontem ouvi Francisco Louçã conversar com um trabalhador de uma empresa de transportes públicos marítimos. Dizia o senhor que os trabalhadores fazem horas extra e que isso é que é bom, para a empresa e para os trabalhadores - que assim recebem mais. Louçã, incomodado, dizia que o problema é que os trabalhadores não eram pagos por isso. O homem respondia que ao caso eram pagos, sim senhor. Conclusão: o candidato do Bloco não anda com sorte nenhuma.

3. Sondagens: Todas colocam o PSD abaixo dos 30%. Santana Lopes diz que é um complot. Portanto vai processar as empresas de sondagens depois das eleições. Suponho, portanto, que vai processar o próprio PSD por usar dados de sondagens do Expresso para a própria campanha. Sim, aquelas em que junta PSD e CDS para mostrar uma curva ascendente. Essas mesmas.

4. José Sócrates anda caladinho, muito caladinho, a recolher os apoios públicos esperados. Não surpreende. Mas já disse e repito - acabando como começei - que para uma maioria absoluta é preciso ser mais arrojado. É preciso mostrar a um país que sabe merecer a sua confiança. Sem explicar a maioria absoluta, sem a exigir, ela não vai cair do céu.

26 janeiro 2005

Campanha incendiária II

Governo atribui Medalha de Mérito Turístico ao FC Porto

O FC Porto vai ser agraciado quinta-feira com a Medalha de Mérito Turístico, "pelo seu contributo para a promoção da imagem e notoriedade de Portugal, através dos seus
extraordinários resultados desportivos internacionais", informou hoje o Ministério do Turismo.

25 janeiro 2005

Campanha incendiária

"Um incêndio deflagrou hoje à tarde na sede do PCP de Coimbra, devido a um curto-circuito na instalação eléctrica, mas não se alastrou ao resto do edifício, disse à Agência Lusa fonte do partido."

24 janeiro 2005

Cristo desceu à terra

Disse António Guterres que Portugal precisa de uma maioria absoluta como do pão para a boca. Mais, disse António Guterres que, de tal maneira elaé necessária, que mais valia uma maioria absoluta do PSD que uma maioria relativa do PS.

Para vos ser sincero, nunca tinha ouvido António Guterres dizer alguma coisa tão acertada. Foram seis anos, mais três de espera. Nove. Mas ao menos tirou a lição.

Fica uma única - pequenina - dúvida: há alguém que a mereça?



P.S. O L.R. voltou com um tiro em cheio. O M.S. vai ter que voltar aos elogios.

Chico Patanisca

Francisco Louçã continua a espalhar a sua superioridade moral pelas câmaras de televisão que o acompanham na sua pré-campanha. Depois do atestado de inimputabilidade política passado a Paulo Portas por causa da questão do aborto, eis que o camarada Louçã considera Bagão Félix sem "qualificação" para debater a temática do fascismo.
Ao contrário de muitos outros, não vou criticar o líder cooptado do Bloco de Esquerda. Elogio-lhe a franqueza e a honestidade intelectual em assumir o que Pedro Oliveira do Barnabé designou de "moralismo jacobino", ou seja, o "elemento intrínseco à cultura política do BE".

Também Mário Soares, no principio dos anos 80, deixou que o PS patrocinasse uma campanha nojenta que atacava politicamente Francisco Sá Carneiro pelo facto de viver em união de facto com Snu Abecassis quando ainda não se tinha divorciado da sua primeira mulher. Essa campanha foi tão nojenta como aquela que Pedro Santana Lopes, verdadeiro autista do poder, permite que dirigentes do PSD espalhem por telemóveis pagos pelo Estado visando o líder socialista José Sócrates. Tal como em 1980, Sá Carneiro ganhou a primeira maioria absoluta à frente da AD, também Sócrates poderá ter o mesmo resultado. Esse será o prémio para os palermas social-democratas que pensam que boatos acerca da vida intima das pessoas rendem votos.

Da mesma forma, Francisco Louçã arrisca-se a ficar bem atrás da CDU de Jerónimo de Sousa. Primeiro, porque exclui boa parte da sua base social de apoio, como os casais e os estudantes sem filhos, os homossexuais e os transexuais, da discussão sobre o aborto. E, finalmente, porque muitos poucos têm verdadeiramente "qualificação" para discutir com Louçã e os seus camaradas bloquistas. A verdade absoluta que representa o programa do BE só está ao alcance da compreensão dos iluminados. Aqueles que viram a luz como o Chico Patanisca. LR

Post avulso

1. Regresso.
Só agora vi que o M.S. se meteu comigo. Ele gosta de intrigas, mas ao caso não tem razão. Ele, que lê o insubmisso, sabe que eu voltei porque quis. E que desapareci porque quis. E que o mesmo se passa com qualquer um de nós. É isso a blogosfera: um espaço de escrita para quando queremos. Agora, M.S., apetece-me. Gosto de saber que gostas de ver.

2. Bola.
Não posso deixar de manifestar interesse na vitória do Sporting. O que incomoda é que seja com dois golos (bons) do Sá Pinto. Algo me diz que, agora, ninguém o vai tirar da equipa.

3. O J.P.H. anda entretido com o que mais vale na vida. Acho que essas tarefas, meu caro, fazem falta ao dr. Louçã. Olhar pelos filhos dá, seguramente, outra serenidade para discutir os assuntoss sérios da vida.

4. As mulheres das redacções não páram de falar no Jude Law, num filme qualquer com a Julia Roberts. Acho que o país feminino não quer saber da política para nada.

Centenas de páginas de programas

OK meus amigos. Já li os programas do PS e PSD - eu e mais dois ou três loucos deste país, que não gostam de mais nada na vida. Ficam algumas - breves - conclusões:

1. Os partidos ainda não perceberam o que é um programa eleitoral. As análises exaustivas não são lidas por ninguém, por exemplo. Mais: 130 ou 160 páginas é quase um Ulisses. E, confesso, bem menos interessante.
2. Pelos vistos ainda ninguém percebeu que estamos numas eleições diferentes. Se olharmos bem, há mil e uma propostas para cada área. Um disparate. O país não precisa de tantas ideias. Precisa de funcionar melhor. Só isso.
3. No seguimento disto: cada vez que se avança com uma nova ideia, devia ser-se obrigado a apresentar os seus custos. Garanto que havia menos ideias.
4. Claramente, no que dz respeito a linhas programáticas, o que mais distingue PS e PSD é a perspectiva de poder. Os socialistas são mais cautelosos porque o aguardam; os social-democratas mais aventureiros porque dão tudo para o manter. Neste ponto, os socialistas são, obviamente, mais prudentes. O que é bom.
5. O que me parece interessante é que, excepção feita aos capítulos da redução do Estado, PS e PSD voltam ao centro, piscando o olho à esquerda. É natural. Mas não é bom. Ao contrário do que os discursos parecem dizer, Portugal ainda não está em tempo de apostar no social. Ou é impressão minha, ou o José Sócrates sabe-o melhor do que Santana Lopes.





23 janeiro 2005

Uns e outros

Ontem foi a vez de José Sócrates. Ouvi o discurso do líder socialista, sem novidades, bem tratado do ponto de vista mediático. Pensei que fosse bom pronúncio.

Comecei a ler o programa e percebi que sim e que não. Por partes:
o programa socialista é vago q.b.. O que pode ser bom - ser vago é sinal de consciência das dificuldades. E pode ser mau - dificuldade em assumir que a governação que se segue implica dificuldades.

À primeira vista, o programa socialista parece-me o mais "centrão" de sempre. Mais até do que nos tempos de António Guterres. Mas as suas cautelas mostram precisamente o que Marcelo dizia ontem: é de centro, mas também de esquerda. Ou seja, nem uma coisa nem outra.

Vou terminar a leitura, para tirar conclusões paralelas.
Daqui a nada, prometo.

22 janeiro 2005

Responsabilidade

Devo dizer que o meu comentário ao programa do PSD vai ser mais demorado do que eu esperava. Ontem consegui ler metade dele. Pelo que vejo, há despesa a mais para meu gosto. Como disse no post em baixo, é o que dá ter muitas "ideias": custa dinheiro e soa a falta de seriedade. Mesmo que algumas sejam bem intencionadas.

Enfim, prometo uma análise mais detalhada para breve. Agora é a vez do PS.
Uma coisa garanto: desta vez ganha as eleições quem for mais responsável. Acho que há alguns anos que os portugueses que votam já perceberam a regra da democracia: as ilusões pagam-se caro.

Até já.


P.S. Ontem vi Santana Lopes duas vezes na SIC. No Expresso da Meia Noite esteve no seu melhor. Tudo o que de bom foi feito, foi ele, garante; o que de mau aconteceu, nada sabe; quanto aos que dizem mal dele, só queriam o seu lugar. É inveja, pois claro. "Em Portugal, a inveja não é um sentimento, é um sistema", dizia José Gil, na Pública da última semana.

21 janeiro 2005

Promessas custam caro

Por falar em falsos puritanos, temos meio país a chatear a cabeça ao líder do PS, alegadamente por não apresentar grandes ideias ao eleitorado. É outra crítica que me faz rir.Como sempre, neste país, o eng. Sócrates é preso por ter cão e preso por não ter.
Percebo bem o dilema e, se me permitir, deixo-lhe um conselho: o melhor mesmo é não falar mais do que o indispensável. É que as promessas, senhor engenheiro, custam muito dinheiro ao país. E quem só teve três meses para apresentar um projecto não pode saber o que é preciso fazer para dar “um rumo” ao país. Garanto-lhe, é muito mais do que imagina. E também muito mais difícil.
Por isso, fique caladinho, bem discreto, sempre que isso for possível. Mostre apenas que não quer destruir tudo, porque muito do que foi feito vai dar-lhe muito jeito no futuro. Seja um líder responsável, que é isso, e só isso, que este país precisa, que este povo quer.

O nível da imprensa

Algures no final do ano passado, muitos amigos (e não só) resolveram atacar o Insubmisso pela publicação de um post em que se fazia referência a assuntos privados.
Na altura, mesmo tendo em conta o exagero das respostas e o que foi publicado na imprensa sobre o assunto, resolvemos recuar. O Insubmisso, blogue que se assume na defesa da liberdade responsável, assumiu também a postura mais responsável, católica até: corrigir o caminho e seguir em frente.

Pois bem, chegados a esta campanha, gostaria de desafiar os que nos criticaram a fazer o mesmo com alguns órgãos de comunicação social. Sou directo: vejam a Visão desta semana e respondam se gostaram de ver o trabalho sobre os boatos. Vejam, mas com atenção: as insinuações, as ligações entre caras e boatos, entre líderes e o resto. Vejam, mas vejam mesmo. E depois cá estaremos para comentar.

Se querem que vos diga, meus amigos (e não só), estou farto de falsos puritanos. Estou cá para assumir as minhas responsabilidades. Espero que todos, mas todos, os que me criticaram estejam cá para asssumir as suas.

Abraços e até já

Regresso

A minha mulher disse-me ontem:
"Tens que pôr qualquer coisa no blogue. Nem que seja como o JPH, que fez um post a dizer que as mulheres mandam nele e que escreveu umas linhas a mando da ASL".
Por isso, cá está.

04 janeiro 2005

Ter medo político

O que é ter medo político?
-É convidar o Pôncio Monteiro para as listas de um partido para contrabalançar a acção do Pinto da Costa pelo outro partido
-É um açoriano encabeçar uma lista partidária...no Alentejo, para não ser nº 3 nos Açores (lugar duvidosamente elegível)
-É falar sobre as cerimónias de graduação do 12ºano (de "atirar o chapelinho ao ar"), quando as coisas verdadeiramente importantes e polémicas continuam a não ser alvo de debate político
-É não tomar posições de fundo e de longo prazo porque o tacho de curto prazo pode estar comprometido, nomeadamente o lugar de deputado ou de assessorzinho

Há quem chame a isto calculismo. Eu chamo-lhe cobardia. É este o primeiro e mais importante princípio para ter sucesso na vida política portuguesa.

"Calai-vos e comei esta é a carne de que é feita a V. carreira e a dos V. protegidos"

Este é um país de medrosos e fracos


País suspenso ou país falhado?

A este canto à beira mar chamou-lhe D.D. "país suspenso".

Discordo.

Suspenso chama-se a algo que tinha concretização marcada mas que por impossibilidade súbita se vê obrigado a ser concretizado mais tarde.

Mas isso pressupõe que "o algo" que se adia e se suspende seja substante e que essa substância seja relevante.

Ora aquilo que temos não é substante nem relevante, antes inconsequente.

E cá continuamos nós, mais uma vez, à espera de D. Sebastião.

Bom ano aos valorosos portugueses que se mantém aqui no burgo

Tudo de bom