03 abril 2009
vergonha
Por muito menos do que aquilo que se está a passar hoje houve no passado, primeiro-ministros demitidos no país. Por muito menos houve figuras públicas, em tempos idos, a pedir a demissão. Por muito menos as pessoas abandonavam educadamente as suas funções públicas e seguiam as suas vidas. Nada do que actualmente se vê na vida pública se deve ao G20, G8 ou a qualquer crise económica. Deve-se a uma outra crise bem mais grave. Deve-se à falta de carácter. Deve-se à falta de honra. Deve-se à falta de honestidade. Deve-se à falta de valores. Deve-se à falta de substância, densidade e seriedade duns parolos que assaltaram a máquina de fazer dinheiro rápido em que se tornou o Estado português. Não aponto o dedo aos partidos. Nos dias que correm não interessa se é o PS ou o PSD ou o CDS ou o PCP. São todos iguais. Não há elites políticas neste país. Não há nada nem niguém, que escape a esta medíocre mediania. Não há ninguém que não esteja enredado nesta vil teia de interesses. Não aprecio particularmente o estilo da colunista Clara Ferreira Alves, mas a última crónica sobre os idos anos 50 apontava o dedo a esta ferida, e revelava-a como causadora dos males da nossa sociedade. Falta tanta coisa, mas sobretudo falta vergonha e carácter.
foto Annie Leibovitz March 2009 vanity fair
foto Annie Leibovitz March 2009 vanity fair
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