19 outubro 2006

Contas à vida

(Pediram-me no DE que escrevesse umas linhas. Saíram hoje. Como estou em dívida para com esta casa, ficam aqui também. Abraços a todos).

CONTAS À VIDA. Aqui ao lado, na sua crónica semanal, o experiente Jorge Coelho prevê mais um ano difícil para muitas famílias e atira para 2008 o início do novo ciclo. Sábias palavras. Os socialistas, pouco devotos à fé divina, querem muito acreditar em Pinho, mas não podem fugir à realidade de Teixeira dos Santos – encarregue das negociações com os sindicatos e do travão à máquina do Estado. O Orçamento volta a ser de contenção e Manuel Pinho, como Sócrates, terá que voltar ao silêncio dos prudentes. A palavra “retoma” fica para mais tarde. Se Deus quiser.


IMAGEM, MENSAGEM. Noite fora, terça-feira. Vejo finalmente “Alice”, um filme português sobre a procura desesperada de uma filha que desapareceu sem deixar rasto. Depois, passo os olhos pelas manchetes do dia seguinte e fico a ver um programa diário da RTP-N, dedicado aos negócios e finanças.

Logo a abrir, vejo dois minutos e meio, bem contados, com uma reportagem de rua com o ministro das Finanças. Notável momento. Teixeira dos Santos em casa, Teixeira dos Santos a andar pelas ruas de Lisboa, Teixeira dos Santos no carro, Teixeira dos Santos no gabinete. A jornalista diz que o ministro demorou 45 minutos até ao ministério, o que o próprio, descontraído, justifica : “ É bom, para fazer exercício”.

No final, deixa a sua palavra de optimismo face ao Orçamento que entregou no dia anterior e acentua (bem) o esforço de racionalização que exige. Percebe-se que o ministro esteja de consciência tranquila pelo trabalho feito. Percebe-se até a tentação de aparecer nas televisões, com sorriso estampado no rosto. O que já não se percebe é isto: como é que um ministro das Finanças, que volta a pedir a todos um apertar do cinto, está tão satisfeito com os sacrifícios que pede ao país?


ABORTO, SACRIFÍCIOS. O Parlamento vota hoje o referendo ao aborto, depois de José Sócrates ter lançado a campanha do “sim”. Percebe-se a pressa do primeiro-ministro - este referendo é um duplo risco para a sua liderança no PS.

O primeiro risco é fácil de perceber: Sócrates não pode perder outra vez. Já foi mau nas autárquicas, foi pior nas presidenciais. À terceira, para mais numa batalha tão cara à esquerda, a derrota seria catastrófica. E deitar fora todo um trabalho de Governo, ano e meio de sucesso, por causa do aborto, não é só um cenário. É um pesadelo.

O segundo risco é de natureza diferente: Portugal fez dois referendos nacionais nos últimos dez anos e, em qualquer dos casos, a abstenção foi elevadíssima. Neste caso, já não é Sócrates quem arrisca, mas o País: se a abstenção voltar aos níveis do passado é bom que alguém os enterre. Porque mortos ficam logo. E há ainda um, prometido para breve, sobre a Europa.

Daí que o primeiro-ministro se envolva, que exija moderação, que peça a todos no Governo uma palavra. É que está mais em jogo do que o aborto.

2 comentários:

Afonso Vaz Pinto disse...

E o Nao ao Aborto tem grandes hipoteses de ganhar. Dia seguinte: Louca acusa o "Nao" de ter feito batota. Santana Lopes acusa novamente Socrates de Batota Politica. Marques Mendes aceita pacto para... o Aborto (!). Cravinho apresenta mais um projecto-lei. Narana Coissoro bebe mais um wiskey. Otelo Saraiva de Carvalho pousa nu para a Maria. Luis Filipe Menezes volta a pedir mocao de censura e congresso extraordinario do PSD (Alberto Joao Jardim, Gomes da Silva, Ines Lopes da Costa alinham no pedido). A CGTP apela a greve das gravidas (!). E o pais cai em si mesmo e reconhece que so deu a maioria absoluta ao PS porque do outro lado estava Pedro Miguel Santana Lopes.

Um abraco do Uganda

Anónimo disse...

Grande abraço para o Uganda, meu caro. Vai aparecendo.
DD