28 novembro 2006

Crónica das maiorias

ORÇAMENTO MONOCOLOR. Depois da entrevista à SIC do Presidente da República, muitos se têm perguntado sobre as razões de tanto apoio de Cavaco ao Governo de Sócrates. A resposta está aí já na quinta-feira, quando o PS aprovar sozinho o Orçamento de Estado para 2007, sem que um único deputado da oposição deixe uma palavra de apoio, de hesitação ou sequer de benefício da dúvida ao documento.

A VERDADE é só uma: nos documentos centrais da governação, Sócrates conta apenas com um apoio, o do seu próprio partido. Não houvesse maioria absoluta e o país caía - uma vez mais - no pior do guterrismo. E desta feita nem um Campelo existiria para salvar a bancada do Governo e a estabilidade governativa.

SUSPIROS. Na entrevista de Maria João Avillez a Cavaco Silva, faltou apenas uma pergunta clarificadora: aprova o Presidente o Orçamento de Estado? Vistas bem as coisas, a resposta está lá - apoiando o reformismo, defendendo um esforço nacional de contenção, sugerindo que se expliquem as medidas, Cavaco deixou claro que nada o opõe ao Orçamento - o mesmo que merecerá de toda a oposição um voto contra. Defendendo a estabilidade, aliás, Cavaco só pode ter nesse dia a mesma reacção que Sócrates não evitará: um suspiro de alívio pela existência de uma maioria absoluta no Parlamento.

CAMINHO CERTO. É por isto que, aprovado o Orçamento, amaioria parlamentar deviameter na sua lista de prioridades a reforma da lei eleitoral da Assembleia da República. Não para criar círculos uninominais, nem tão-pouco para reduzir deputados. O que PS e PSD têm a obrigação de fazer é mexer na lei para aumentar a estabilidade do regime. Havendo coragem política, os dois partidos só teriam um caminho: deixar-se de conversa fiada e caminhar no sentido de um Parlamento bipolar, onde a alternância do poder estável seria a regra e onde o papel da oposição seria o de controlar a acção do Executivo. Só assim se reforçaria o papel do Parlamento e só assim nos deixaríamos de discussões fúteis que a nada levame que só atrasam o país.

E OS PEQUENOS partidos - perguntariam os mais contemporizadores? Basta olhar para eles para encontrarmos a resposta: alguém precisa de um CDS que só aparece nos momentos das guerrilhas internas? E de um PCP que teima em não entrar no arco de governabilidade, antes procurando um lugar na contestação de rua? Em qualquer dos dois casos, se é verdade que há bons elementos nestes partidos, também o é que esses teriam voz reforçada se assumissem papel de relevo no chamado Bloco Central. Mais, poderiam até ganhar espaço e assumir uma posição de liderança que hoje, por exemplo no PS, a ala esquerda teima em não conseguir.

HOUVESSE CORAGEM, portanto, e a lei mudava. Porque se prova que Portugal só anda para a frente em anos de maioria absoluta; e porque talvez assim a oposição tivesse espaço para maior responsabilidade.

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