ANALOGIA DO PODER. Há 16 anos, no final da primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, o então director do Expresso, José António Saraiva, analisava de maneira curiosa o estilo do cavaquismo. Dizia assim: “A verdade é que este Governo não caiu por si. Não apodreceu. Não se desagregou. Mais, geriu com notável mestria os seus quatro anos de poder.”
O analista, porém, não se ficava pelo elogio. “Durante os primeiros dois, fez as reformas que queria fazer, afrontando todas as classes: médicos, advogados, professores, militares, funcionários públicos... No ano e meio seguinte consolidou as reformas feitas e emendou aquilo que não podia deixar de emendar. Finalmente, guardou os últimos meses para mostrar trabalho feito”.
JOGOS DE SORTE. 16 anos depois, o mínimo que se pode dizer é que José Sócrates segue à letra a cartilha do cavaquismo, com o bónus de ter em Belém precisamente o autor da estratégia, e não um Mário Soares ávido de ganhar o seu quinhão de poder. Sócrates, assim, pode considerar-se um homem de sorte. E esta história só pode acabar com o apoio socialista a Cavaco nas presidenciais de 2011.
JOGOS DE AZAR. Mas se Sócrates pode agradecer aos deuses a sorte que lhe calhou, o que dizer de Marques Mendes? O líder do PSD, que há 16 anos era o porta-voz do cavaquismo, hoje é refém da estratégia que ajudou a montar. Mendes não só sabe o que Sócrates está a fazer, como sabe que o está a fazer bem feito. Mais ainda, Mendes conhece Cavaco e sabe que de Belém não sairá uma só palavra que coloque em causa o primeiro-ministro – porque Cavaco não fará a Sócrates o que Soares lhe fez a ele.
ALVO FÁCIL. Entre a espada e a parede, Mendes sabe também que é um alvo fácil dentro do próprio PSD. Tão fácil, aliás, que Morais Sarmento só teve que esperar a primeira entrevista de Cavaco para disparar o primeiro tiro: “Não o associo a nenhuma causa”, afirmou numa entrevista ao DN. Para admitir, logo a seguir, que ainda “é cedo para avaliar Sócrates” – a quem reconheceu, de resto, virtudes de reformismo.
CONSELHO DISCRETO. Quem se lembre da nossa história recente, sabe que durante a primeira maioria absoluta de Cavaco o PS deixou cair Almeida Santos e Vítor Constâncio. Sabe, também, que o próprio Jorge Sampaio só resistiu mais dois anos. Como estes – cuja carreira, como se sabe, esteve longe de terminar no Largo do Rato –, Mendes sabe que terá muitos obstáculos e adversários pela frente, se quiser ter a sua oportunidade. Mas, sobretudo, terá nas mãos um grande desafio: ter paciência com os seus, e a seriedade de reconhecer o bom que seja feito pelos outros. Acima de tudo, Marques Mendes deve seguir um conselho sábio e discreto que lhe chegou de Belém: exigir mais e melhor de Sócrates. Sem baixar os braços e sem as demagogias que a história e os livros nunca perdoam.
14 dezembro 2006
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2 comentários:
Muitas outras virão. O meio muda, a qualidade permanece. Os leitores, atentos, idem.
Um gd abraço
és e serás grande onde quer que estejas
abraço
Antonio Mira
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