Sócrates em segundo lugar, os portugueses em primeiro, vivem um momento de muita infortúnia. No final dos anos noventa início deste século, enquanto a economia mundial viveu dias gloriosos com um crescimento fixo acima dos 5%, Portugal esteve mergulhado numa crise grave das suas contas públicas. Guterres (em dois governos que Sócrates integrou, tendo mesmo num deles sido Adjunto do primeiro-ministro) esbanjou oportunidades únicas.
Seguiu-se Barroso que travou a fundo a derrapagem das contas públicas, controlou danos mas nada cultivou. Santana não é, sequer, digno de registo (foram quatro meses mais dois já demissionário).
Aqui chegados temos três anos de um Governo de maioria socialista que teve o enorme mérito de controlar o buraco das contas públicas (num percurso como não há memória). Mas, de repente, quando o país colocava finalmente a cabeça de fora, ex-senão-quando cai uma tempestade que assola tudo e todos. Trava o crescimento, decresce o investimento, desemprego em alta, poder de compra em baixa, aumentam os problemas sociais, dispara a pobreza. Depois de dois anos a vender que o ceú estava já ao virar da esquina, meses após uma descida injustificada do IVA, Sócrates, hoje, descobriu a pólvora: a culpa dos problemas sociais do país é da situação social desequilibrada que o PSD lhe deixou. Perdeu, neste preciso momento, o meu voto mas, mais grave, perdeu todo o decoro. Porquê?
Então e os seis anos de Guterres foram só fumaça? É como dizer que Sócrates que, enquanto ministro do Desporto defendeu a construção de dez estádios para o euro 2004 (muitos deles estão hoje vazios, vários falidos, alguns encerrados) é, por isso, responsável pelo estado de pobreza a que chegámos... Contribuiu, isso sim, tal como o PSD a quem hoje aponta o dedo.
Cavaco tem uma boa teoria para este tipo de comportamentos: Seis meses é o máximo de tempo que um Governo pode responsabilizar o seu antecessor pelos problemas que encontra (a partir de aí entramos no campo da demagogia política). Sócrates já governa há três anos... É, de facto, tempo de encarar o futuro sem andar a justificar o passado.
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