Dizem que o mundo muda quando nasce o primeiro filho. Muda mesmo. Não é tanto pelas lágrimas do momento (muitas), ou pela certeza de que estamos perante uma imagem que vamos reviver toda uma vida. É claro que tudo muda, é claro que as prioridades se invertem - isso também conta. Mas não é bem isso, não é apenas isso que contribui para o lugar comum mais doce e mais verdadeiro que o Homem alguma vez inventou. O que mais contribui para essa tomada de consciência são as imagens que nos ficam e - isto é essencial - as surpresas que o nosso próprio pensamento nos traz.
O maravilhoso mundo novo passa pelo choque da primeira imagem, aquela de que não sabemos o que esperar mas que chega muito mais bela do que alguma vez nos contaram, que nos atrevemos a desejar;
Passa, uns dias depois, por olhar para as lágrimas doces que caem pela cara da mãe, enquanto diz - devagar, sem soluçar - "ela sorriu";
Passa por ir num carro, a caminho do registo que a tornará uma menina deste mundo, e pensar que nunca mais num dia estarei a pensar "o que é que eu vou inventar para fazer hoje". E, logo depois, perguntar-me como é que viver com essa liberdade alguma vez pode ter sido bom;
Passa pela certeza, ganha de um minuto para o outro, que dar "graças a Deus" é uma afirmação cheia de sentido - e sentida, quando o choro passa;
Passa por pensar pela primeira vez que "nascemos para isto", sem corar de vergonha;
Passa por perceber, depois de nove meses e de mais uns dias, que há mesmo alguma coisa lá em cima que zela por nós, que nos fez assim, e que fez bem em fazê-lo;
Passa por sentir uma responsabilidade especial (em caixa alta, RESPONSABILIDADE), e perceber o quanto ela nos pesa enquanto o choro não passa (e prever dias piores que aquele pela frente, durante muitos e muitos anos);
Passa, ainda, pelo prazer de olhar para trás e ver que, afinal, muito da nossa infância faz mais sentido do que alguma vez imaginámos, que muito do que deram, do que nos fizeram viver, faz parte de um quadro bom, que queremos tirar rapidamente do sótão lá de casa.
Este novo mundo é, dito isto, olhar para trás e para a frente e ver que o sítio onde estamos é melhor do que pensámos, mas que está longe de ser perfeito o suficiente para a merecer. O que só nos dá uma razão muito mais forte do que alguma vez tivémos para fazer tudo melhor, tudo muito melhor.
A Maria Clara deu-me isto e só começou agora. Palavra de honra.
O maravilhoso mundo novo passa pelo choque da primeira imagem, aquela de que não sabemos o que esperar mas que chega muito mais bela do que alguma vez nos contaram, que nos atrevemos a desejar;
Passa, uns dias depois, por olhar para as lágrimas doces que caem pela cara da mãe, enquanto diz - devagar, sem soluçar - "ela sorriu";
Passa por ir num carro, a caminho do registo que a tornará uma menina deste mundo, e pensar que nunca mais num dia estarei a pensar "o que é que eu vou inventar para fazer hoje". E, logo depois, perguntar-me como é que viver com essa liberdade alguma vez pode ter sido bom;
Passa pela certeza, ganha de um minuto para o outro, que dar "graças a Deus" é uma afirmação cheia de sentido - e sentida, quando o choro passa;
Passa por pensar pela primeira vez que "nascemos para isto", sem corar de vergonha;
Passa por perceber, depois de nove meses e de mais uns dias, que há mesmo alguma coisa lá em cima que zela por nós, que nos fez assim, e que fez bem em fazê-lo;
Passa por sentir uma responsabilidade especial (em caixa alta, RESPONSABILIDADE), e perceber o quanto ela nos pesa enquanto o choro não passa (e prever dias piores que aquele pela frente, durante muitos e muitos anos);
Passa, ainda, pelo prazer de olhar para trás e ver que, afinal, muito da nossa infância faz mais sentido do que alguma vez imaginámos, que muito do que deram, do que nos fizeram viver, faz parte de um quadro bom, que queremos tirar rapidamente do sótão lá de casa.
Este novo mundo é, dito isto, olhar para trás e para a frente e ver que o sítio onde estamos é melhor do que pensámos, mas que está longe de ser perfeito o suficiente para a merecer. O que só nos dá uma razão muito mais forte do que alguma vez tivémos para fazer tudo melhor, tudo muito melhor.
A Maria Clara deu-me isto e só começou agora. Palavra de honra.
3 comentários:
Isso já me aconteceu há 13 anos mas, se a memória não me falha, os sentimentos foram os mesmos :)
Abraço e parabéns
Definição perfeita da paternidade e maternidade. Nunca esperario outra coisa de ti.
Joder tio ! muy bien.
Enviar um comentário