24 fevereiro 2009

Candidato à força


Pedro Passos Coelho desde que o ano começou (há 56 dias) teve, pelo menos, as seguintes intervenções políticas: Conferência da Economist, intervenção no American Club, entrevista DN/ TSF, entrevista Jornal de Negócios de Fim de Semana, artigo Jornal de Negócios, entrevista Pública, entrevista na revista dos hoteis, entrevista na revista dos supermercados, entrevista no programa do Camilo Lourenço na RTP, encontro do Construir Ideias com o Pedro Adão e Silva, algumas declarações avulsas a jornais, entrevista Maria Delfina na TSF e uma entrevista ao Mário Crespo. De memória lembro-me destas intervenções. Na última, uma entrevista de sete páginas à "Pública", enganou-se de facto ao citar o título de uma obra que diz ter lido mas que afinal não existe. O que há de mal? O erro na citação ou a desmesurada agenda pública de um candidato sem eleições marcadas? [Vale a pena responder?]

23 fevereiro 2009

Quem tem a coragem?

Há ou não uma relação directa entre a qualidade média dos políticos portugueses e os ordenados que recebem? Há ou não uma relação directa entre a política em part-time de muitos deputados e os ordenados que recebem? Há, certamente. Com a crise a descer às ruas a discussão estará, desde logo, centrada nos chorudos ordenados dos gestores em contraste com os pobres desempregados que são lançados ao vazio. Mas uma coisa é certa: enquanto o ordenado dos políticos em Portugal não deixar de ser um entrave à captação da excelência não teremos uma melhor e mais produtiva classe política. Um exemplo: se todos os cargos políticos de carácter nacional e soberano exigissem exclusividade, os senhores e senhoras em causa passariam a ganhar um ordenado igual à média declarada por mês nos cinco anos anteriores. Zeinal Bava a ministro? Muito bem, a exclusividade custará 23 mil contos por mês aos contribuintes. O país ganharia, e muito, em dividendos.

Óscares à portuguesa

Não preciso ver o filme para saber uma coisa: PS e Bloco vão entrar numa acesa disputa para ver quem traz primeiro Sean Penn a Portugal para um colóquio político-temático.

20 fevereiro 2009

O que dirão?

A grande maioria das sondagens anda por estes dias a fazer o seu trabalho de campo. Nas notícias as coisas variam entre gestores de bancos inibidos, despedimentos em barda, pedidos de empresários para que haja um bloco central, criticas de outros empresários à qualidade dos políticos, Governo na rua a assinalar quatro anos... de Governo, oposição a lançar medidas contra a crise, arguidos no Freeport e um derby pelo meio. Que efeito terá tudo isto?

Uma dúvida

Hillary, uma pragmática política de esquerda, foi à China dizer que a questão dos direitos humanos, num momento de crise como este, não pode interferir nas relações entre EUA e Pequim. Desculpem a blasfémia, mas os empregos americanos valem mais do que os chineses espancados até à morte? Perigoso este mundo....

16 fevereiro 2009

Prós e contras

Sou contra os casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Não acho que o casamento seja para procriação (tenho demasiado respeito por quem não procria - palavra feia esta...), não acho que se trate de uma questão constitucional, tão pouco de uma questão civilizacional. Ontem Rui Tavares, um inteligente homem de esquerda, no Prós e Contras, apontava dois argumentos para defender o casamento entre pessoas do mesmo sexo: como pagam impostos e podem ser primeiros-ministros os homossexuais devem poder casar; como o Estado não deve meter-se na cama de ninguém pode comparar-se a impossibilidade de serem realizados casamentos entre pessoas do mesmo sexo à luta pelo fim da pena de morte. Boçal o argumentário. Por que querem os homossexuais ter direito ao casamento tal e qual foi concebido para heterossexuais? Não querem ser discriminados. Concordo: não devem ser discriminados, nem negativa nem positivamente. Os homossexuais querem, por isso, que o Estado lhes reconheça os mesmos direitos que reconhece aos heterossexuais. Nada mais justo. Daí a conceder-lhes a possibilidade de se casarem vai um grande passo. Seria como um cidadão estrangeiro sem licença de residência em Portugal exigir o mesmo tratamento do Estado português que um cidadão português. É tão nobre o respeito na igualdade quanto o é na diferença. Mesmo quando estamos a falar da possibilidade dos homossexuais terem acesso a algo que foi concebido, apenas, para heterossexuais: o casamento.

Como vamos sair de 2009?

Não é fácil, mas também não é bom responder a esta pergunta. 2008 provou o quão precárias são as previsões nos tempos que correm. Começámos o ano passado confiantes de que havia luz ao fundo do túnel, crescíamos a 2% acabámos o ano com uma travagem de 2%, um Governo mais enfraquecido, dois bancos nacionalizados, o desemprego a disparar e um severo e inequívoco risco de uma crise social profunda. Sem tremendismos: perigosamente precários é como estamos. E, em 2009, como evoluirão as coisas? Desde o momento em que batamos no fundo vão certamente melhorar. Venha rapidamente ao de cima o chão, por favor....

13 fevereiro 2009

Alguém sabe onde fica o fundo deste buraco?

Hoje não foi possível pedir qualquer ajuda ao primeiro-ministro na resolução deste enigma. Parece que não teve agenda. So what?

11 fevereiro 2009

O jornalismo Porto-Livre

No caso Freeport existe de tudo um pouco.
- Os jornalistas 'embedded' como os da extinta "Tempo". Sem comentários porque é mau demais.
- Os jornalistas poligamos (sempre disponíveis para acolher uma nova tese). Expresso dia 12 de Fevereiro de 2005 diz na página 17 e sem chamada à primeira página (embora estivéssemos a oito dias das eleições) que Sócrates é suspeito por alegada prática de corrupção; depois em Março, o mesmo Expresso, diz que foi tudo uma intentona aquilo que o Independente publicou a 11 e 18 de Fevereiro e, já na primeira página, escreve o semanário que "policias e jornalistas [do Independente] suspeitos por corrupção" isto porque os jornalistas do Independente são suspeitos de terem recebido contrapartidas sendo certo que o documento publicado pelo Independente é falso (hoje olhar para trás dá vontade de rir....o documento é verdadeiro, não houve nenhuma contrapartida ou sequer indício ou suspeita de que tenha havido mas o Expresso nada disse, em nada emendou a mão); depois em Janeiro de 2009 o mesmíssimo Expresso diz que a investigação ao Freeport afinal existe, tem provas e suspeitas e faz sentido que tudo seja investigado.
- Os jornalistas cara-de-pau. A actual direcção do Sol, ex-direcção do Expresso. Em Março de 2005 escreveram na primeira página, sem sequer ouvir o jornalista do Independente que escreveu a notícia sobre as investigações do Freeport, uma chamada dizendo que ele estava a ser investigado por suspeitas de corrupção (era violação de segredo de justiça, na verdade, e ele foi absolvido sem que o Ministério Público tenha querido recorrer mas essas são pequenas diferenças hein!?). Hoje, António José Saraiva diz que é o farol não sei-de-quê, o bastião não sei do que mais. Cara de pau, pelo menos isso, cara de pau.
- Os jornalistas abutre. Meter o dedo de fora, sentir a direcção do vento, cavar o mais possível e mesmo que se tenha que mentir queremos é ser os primeiros. Sábado e Visão. Ambas as revistas escreveram em 2005 (Abril e Maio creio) que o documento publicado pelo Independente era falso e a informação nele contida em nada correspondia ao processo. Como se tivesse sido produzido num vão de escada. Ora, parece que o documento e a informação nele contida existem ( o inspector-chefe da PJ de Setúbal assim o confirmou no processo onde foi julgada a violação do segredo de justiça, um processo que já não está em segredo de justiça). Já a Visão chegou mesmo a fazer uma manchete ("História de uma cabala", creio que era o títutlo) onde dicertava sobre a alegada cabala que tinha sido montada contra o primeiro-ministro José Sócrates em Fevereiro de 2005. Esquecendo-se que a PJ de livre e espontânea vontade decidiu fazer buscas perguntando pelo envolvimento do PM na aprovação do Freeport, a 12 dias das eleições quando todos sabíamos que Sócrates iria ser eleito primeiro-ministro. Mais um pormenor de somenos: as buscas foram de tal forma bem conduzidas que os responsáveis pelas mesmas continuam em funções incluindo a inspectora-chefe do departamento da PJ em Setúbal. Duas revistas, duas investigações goradas nenhuma emenda. Agora, em janeiro de 2009 as mesmas duas revistas fizeram uma manchete com as suspeitas dos ingleses sobre o PM português.
- Os ex-jornalistas: Há dias Miguel Sousa Tavares no Expresso falava sobre os jornalistas que divulgaram o caso Freeport em 2005 como se fossem jornalistas a soldo. Incompleta a ideia do ex-jornalista: a soldo da verdade. É ou não notícia que a PJ decida realizar buscas envolvendo o candidato melhor posicionado para ser eleito PM a 11 dias da sua eleição? M. Sousa Tavares acha que não. É a melhor prova de que matou o bom jornalista que um dia foi.

Não sei se José Sócrates fez ou não algo de mal. Não sei, sinceramente não sei, se terá tido algum proveito próprio por parte de algum dirigente da Administração Pública na aprovação do Freeport de Alcochete. Sei uma coisa: não são apenas os políticos que precisam de reflectir. Nós, os jornalistas também. E não é pouco. 'So help us God'.

P.S. Porque o tema já não está a arder nas manchetes vale a pena explicar porque o Ministério Público também deve reflectir. No processo que abriu aos jornalistas que alegadamente tinham violado o segredo de justiça em Fevereiro de 2005 o Ministério Público decidiu colocar como apenso (VII) o processo inicial (o que teve origem numa denúncia anónima que visava o actual primeiro-ministro). Em poucas palavras: no processo onde estava a ser investigada a alegada violação de segredo de justiça o Ministério Público violou o segredo de justiça colocando como apenso um outro processo, ele sim, ainda hoje em segredo de justiça. Acontece que, no preciso momento em que deixa de estar em segredo de justiça o processo que teve como arguidos os jornalistas, qualquer cidadão pode consultar o processo original que continua em segredo de justiça. Como dizia Frei Tomás: faz o que eu digo....

Alexandre no estômago Soares joelhos dos pés juntos dos Santos

É uma entrada à Valcx ( o holandês do Sporting) a que Alexandre Soares dos Santos faz hoje ao primeiro-ministro. Com ou sem sentido? Como fala em causa própria (é um dos visados pelo discurso Robin Wood do líder do PS) a razão que tem ASS sai, ligeiramente, manchada. Mas, enquanto se vitimiza como aconteceu hoje com o Freeport no Parlamento ou lança para debate uma medida que é politicamente correcta sem explicar o alcance que lhe pretende dar, Sócrates presta-se à "demagogia". É politicamente muito hábil a resposta do nosso primeiro-ministro após um momento de aperto, mas é objectivamente falaciosa. Primeiro: como disse e bem Filipe de Botton "infelizmente" o corte de deduções fiscais dos ricos (aqueles que mais de cinco mil euros/mês) e o aumento das deduções da classe média no Orçamento do Estado de 2010 terá um efeito de jutiça fiscal em 2011. Até lá veremos quem consegue meter a cabeça de fora...Segundo: a dimensão das deduções que o Estado poupa com os ricos e canaliza para a classe média ajuda mas não resolve nenhum problema estrutural. No limite trata-se de uma razoável aspirina. Terceiro: tendo Portugal uma das mais altas cargas fiscais da UE (39% é a previsão para 2009) o problema é de injustiça fiscal como um todo, o que não se resolve com uma mudança no mapa de deduções em sede de IRS. É preciso mais, muito mais.

09 fevereiro 2009

Pegando na dica do Mário Crespo

E se?
E se Marcelo Rebelo de Sousa está consciente de que Ferreira Leite não pode ser a candidata do PSD a primeira-ministra porque o partido desaparecerá e, por isso, critica-a afincadamente para lhe dizer publicamente o que os colaboradores tardam em explicar em privado? E se Rui Rio se poupou durante os últimos meses, desde que Ferreira Leite lidera a oposição apesar de ser seu número dois, porque admite ser candidato a primeiro-ministro em Junho caso as eleições sejam antecipadas para coincidirem com as europeias (aliás, a própria Elisa Ferreira será candidata a eurodeputada, em Junho, e a presidente do Porto em Outubro)? E se o silêncio de Alexandre Relvas praticamente desde Setembro quando assumiu a presidência do viveiro politico do PSD (o instituto Sá Carneiro) se deve a solidariedade com a líder, mas também a uma poupança a desgates desnecessários para ser um trunfo a enfrentar Passos Coelho caso Rio não seja solução? E se José Sócrates aguarda, apenas, para ser reeleito líder do PS com percentagens sul-americanas e, mais tarde, ser inundado com muito mimo em congresso para pedir ao Presidente que antecipe eleições para Junho depois do seu nome vir a ser afastado do caso Freeport? E se isto é verdade? Estaremos melhor ou pior? Melhor. Sem hesitar, MELHOR. A concorrência só prejudica os mediocres e o país, em crise profunda, económica, social, de valores e muitas outras precisa...dos melhores. Tanto no Governo, como na oposição.

Mário, Máário, Máário, Máário Crespo

Curtido, populista numas coisas, muito bem conseguido noutras.

"Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo. Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos."

in JN

08 fevereiro 2009

Que efeito terá o Freeport sobre a imagem do PM?

Da questão colocada há algumas semanas (menos de duas...) já se podem tirar algumas conclusões. Apesar de, segundo a Universidade Católica, 61% dos portugueses exigirem mais explicações a Sócrates sobre o seu envolvimento na aprovação do Freeport de Alcochete a verdade é que tanto o PM como o PS (embora seja o partido mais imune do que o líder) pouco ou nada sofrem nas sondagens. Na Aximage o PS sobe 0.2% (para os 40.2%) e, na Eurosondagem, cai 0.8% (para os 40.3%). A surpresa não está na equação Freeport-Sócrates, mas sim na ausência de efeitos na equação Freeport -Sócrates - Manuela Ferreira Leite. A líder do PSD é um entrave a uma alternativa a este Governo. As razões são simples. Primeira: o PSD está em queda livre, paulatina mas constante nas sondagens. Daí que escrever um comunicado contra o senhor da eurosondagem seja um tiro no pé. Segunda: como é que uma mulher que marca a agenda do país em Junho de 2008 falando de pobres nunca se encontrou com o presidente das IPSS? Nunca lhe telefonou sequer? E, parece, o senhor é militante do PSD...Ferreira Leite já disse PIB 1.137 vezes desde que é lider mas nunca visitou um pobre no seu habitat. Está tudo dito.
Sócrates no momento dificil que atravessa agradece e, não fossem os deslizes habituais do ministro S. Silva ( o tal que temia pela ingovernabilidade que Cavaco na Presidência provocaria), o líder do PS estaria a viver uma fase de desagravo durante o momento que é suposto as coisas serem difíceis. Quando, no Sábado, for reeleito líder do PS Sócrates vencerá o segundo referendo ao processo Freeport. Tal como aconteceu no primeiro, o popular, em que deu dez a zero a Ferreira Leite, no segundo referendo, o partidário, ganhará por uma larga maioria.

P. S. O professor Jorge Sá da Aximage tem uma teoria que comprovou com estudos práticos na última campanha: foi a divulgação de notícias sobre a aprovação do Freeport, dando conta das suspeitas das aurtoridades sobre o alegado envolvimento de Sócrates, que deram a maioria absoluta ao PS. Em 2009 a história pode-se repetir.