05 agosto 2006

Cuba - parte !!

A propósito de um pseudopost meu sobre o que será Cuba quando o camarada Fidel morrer, surgiu um post do David – esse, sim, provocatório – que está a dar azo a um debate que já não é debate nem coisa nenhuma. É um conjunto de ataques sobre quem é mais de esquerda ou quem é mais de direita, sobre os falsos democratas da direita ou os relativistas-ortodoxos da esquerda, uma quantidade de caracteres que já está a resvalar para o tom displicente e quase agressivo.

Isto incomoda-me, desculpem lá. Sobretudo incomoda-me que vocês não aceitem as opiniões uns dos outros.
Incomoda-me que o David não admita que a Carla tenha dúvidas sobre a actual situação no Iraque (uma guerra desencadeada por causa de uns furos de petróleo e de uma indústria bélica que é preciso alimentar e que teve como desculpa deitar abaixo um ditador – valha-nos isso).
Incomoda-me que a Carla julgue a opinião do David para dizer que não recebe dele lições de democracia.
Incomoda-me que o António Mira se atire ao Rapaz Que Passou Por Aí, acusando-o de estar a fazer comentários sobre coisas “que não conhece”.
Incomoda-me que o Jolaze venha aconselhar o António Mira a ouvir e a ler mais um bocado e venha para aqui dizer que eu devo ser da Juventude Popular!!!
Incomoda-me que o António Mira entre numa guerra de orgulho por causa de erros ortográficos e (pior!) diga que já não tem idade para “fumar umas coisas à beira de um canal ali para os lados da Zambujeira”.
Por favor!!!

Vamos por partes.
Primeiro a minha orientação partidária para que fique tudo esclarecido e ninguém tenha dúvidas: sou swing vote! Voto em pessoas e não em partidos. Voto mais à esquerda, mas também voto à direita. Voto muitas vezes em branco.

Agora, Cuba. Só vou dizer o que vi.
Vi um cubano a queixar-se de que não há liberdade de imprensa em Cuba: “Aqui, temos três televisões: Fidel 1, Fidel 2, Fidel 3”.
Vi um cubano a dizer que Fidel era o maior.
Vi pobreza. Vi a casa do Reinaldo, que conheci na rua, com um boné do Che na cabeça, um charuto meio fumado meio por fumar e uma bebericalha qualquer a que ele chamou café, em que eu dei um trago curto de olhos fechados. Tinha uma filha mais nova que eu, linda, vaidosa até dizer chega, e com um verdadeiro cu de cubana. “O dinheiro que eu ganho é para os estudos dela”. A casa era um quarto, sem retrete, sem duche, com um fogão de dois bicos ao lado da cama.
Não vi lá, mas já vi em reportagens e documentários, um dos melhores serviços de saúde do Mundo (pelo menos nalgumas áreas – confesso que não sei em quais, mas julgo que a reabilitação fisioterapêutica é uma delas).
Vi um dos povos mais cultos do Mundo (“Ah! São de Portugal! A montanha mais alta é o Pico! Tem mais de dois mil metros! E o Rosa Coutinho? Já morreu?”).
Vi cubanos a “assaltarem-me” um saco de bonés, camisolas, medicamentos, champôs e sabonetes que eu tinha levado para dar.
Vi um carro da polícia a parar para fazer dispersar os cubanos que me “assaltavam”. Vi-me a mim a dizer à polícia: “Tranquilo, tranquilo”. Vi as coisas que tinha dentro do saco a desaparecerem num ápice.
Vi as comemorações do aniversário da JCP a serem suspensas por causa da morte do Papa.
Vi a Havana turística (impecável) e a outra Havana (decrépita).
Vi beijos e amassos e línguas e mãos e suor e saliva no Malecon.
Vi um cubano a correr atrás de mim para me entregar os óculos de sol de que me tinha esquecido numa banca de artesanato.
Vi uma cubanita com um turista europeu que teria seguramente mais de 50 anos. Aliás, vi várias.
Vi um cubano a dizer que, mal conseguisse, fugia de Cuba.
Vi um cubano a criticar os dissidentes.

Vi todos os cubanos felizes. Não há dinheiro, mas há sorrisos. E isso é inegável. Uma vontade de viver diferente da nossa.
Não há dinheiro, mas há sexo, há rum, há salsa.

Paguei sempre em pesos convertibles. Não sei o que vai ser Cuba pós-Fidel.

10 comentários:

FT disse...

É este contra-peso na balança que me fascina. Faz bem a esta casa uma b.b., digo eu. Uma lufada de ar fresco, é o que é!!
Quando as mangas já estão arragaçadas, eis senão, que chega b.b.. Qual ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZorro...

BJ

Anónimo disse...

A Bárbara tinha pedido palpites sobre o futuro de Cuba. Depois deste seu post, percebo que também não estivesse à espera de execuções sumárias para quem se atrevesse a afirmar algo que não agradasse ao pensamento dominante.
Partilho todas as suas dúvidas e também não tenho qualquer certeza sobre o que pensam ou sentem os cubanos. Sei que é mais fácil e confortável 'achar' coisas do lado de cá e que, por isso, é mais fácil também cairmos em paternalismos, utopias ou ingerências. Pela forma como olha para as coisas parece-me que não corre esses riscos.
Fique com a minha admiração.

Carla

Anónimo disse...

A Carla tem razão e, se ainda não foi, acredite que ia gostar de Cuba. Das praias, das comidas e das gentes... Vá lá!

Pedro Correia disse...

Viste "todos os cubanos felizes", Bárbara? Mas não viste o milhão e meio de cubanos que abandonaram a ilha desde a chegada do "libertador" Fidel, votando com os pés. E se muitos outros não fizeram o mesmo foi porque não conseguiram chegar ao destino como o daqueles dois jovens que caíram no oceano e foram devorados pelos tubarões quando se dirigiam para os EUA num avião de sulfatar os campos. Dá que pensar, não dá?

David Dinis disse...

A nossa BB é uma sonhadora, daquelas que jamais poderia viver em Cuba. Já o Pedro Correia, uma vez mais, tem TODA a razão. Pois é, meu caro. Miami, é o que te digo. Grande abraço.

Anónimo disse...

Dá que pensar são todas as contradições entre o que se exige a Cuba, e o que se exige aos outros.

Se o numero de Cubanos que escolhem viver fora do seu país natal, empenhando para isso às vezes a propria vida, é sinal proporcional de falta de liberdade, então vamos, proporcionalmente, exigir liberdade a Portugal. Ou daqui não sai ninguém em busca de qualquer coisa?
E quantos Mexicanos arriscam a vida diariamente atravessando um deserto assassino em busca do pão? E do Mexico fala-se? E desse muro da vergonha? E isso não dá que pensar?

Mas porquê Cuba? Porqué tanta inverdade, desconhecimento, intolerancia?
Roubar um avião de sulfatar não é crime em qualquer parte do mundo? Se os EUA dessem vistos de imigração de acordo com as quotas que eles proprios impõem para Cuba, será que seriam preenchidas? Não dá que pensar?

Mas alguém acha mesmo que a administração Bush está preocupada com a democracia no Mundo? Ou com a imigração ilegal, ou com os direitos humanos? O Bush? Ora pensem lá bem...

BB disse...

Acho que o Pedro Correia não leu bem o que eu escrevi. Nem o David. Vi todos os cubanos felizes. Não vi todos os cubanos felizes com o regime. Vi todos os cubanos felizes, porque têm uma maneira de estar na vida diferente da nossa. Porque não vivem como quem carrega o mundo às costas como nós, que temos uma unha encravada e já estamos a morrer nas urgências do hospital.
Também escrevi que ouvi cubanos a dizer que mal pudessem fugiam dali e outros a criticar os dissidentes. Também escrevi que ouvi cubanos a queixarem-se do regime. Ou vocês só lêem o que vos interessa ou então não percebo.
O mundo não é a preto e branco. Mas isto é só o que eu penso. Há quem ache que o mundo é a preto e branco e eu tenho que respeitar a opinião dos que acham isso. A questão é que a conversa se torna muito complicada nessas situações.
Beijos nas vossas bochechas.
Continuo sempre a aprender convosco.
Sincerely yours,
bb

Anónimo disse...

Continuo a visitar este blog, pelos teus post’s, Barbara. Por isso continua o teu bom trabalho, por se deixas de escrever, é mais um blog, que elimino dos meus favoritos. Pois estar a ler constantemente post’s de propaganda de uma certa direita radical, cansa e é muito pouco construtivo. Qualquer dia estou a ler opiniões sobre o almoço de Ribeira e Castro e Manuel Monteiro.

HR

BB disse...

Helder,
muito obrigada pelo comentário. De qualquer forma, não me parece de todo que os meus camaradas de blog sejam partidários dessa dita "direita radical". Como já disse uma vez aqui o António Mira, trata-se apenas de "liberdade individual responsável" em sã convivência. Este melting-pot é que é estimulante, digo eu. Não se trata de partidarites para este ou aquele lado.
(By the way, o almoço entre Ribeiro e Castro e Manuel Monteiro não deixa de ser interessante para analisar o estado da oposição)
Cumps
bb

Anónimo disse...

Qual oposição? O CDS é oposição? Oposição ao Sócrates? Se o CDS fosso oposição acham que estaria assim desnorteado? Cá para mim está mas é financiado...