Parece-me francamente óbvio que só tivémos duas vitórias relevantes nestas presidenciais.
1. Apresentaram-se como independentes dos partidos – e como os portugueses odeiam os partidos... O ódio, esse ódio de estimação que lhes vem da memória que não têm - da primeira república, do fim da monarquia – deu-lhes para aceitarem o que não é. Porque o poeta só não foi porque não o quiseram. E porque o professor – que, honra seja feita, nunca gostou de partidos – só não teve o que não quis por excesso. Mas os portugueses também gostam de românticos. Eu também gosto de românticos, aliás. O Eça, que eu continuo a achar o nosso número um, já o sabia – malhava nos parlamentares para os rentabilizar nas letras. Os partidos, já se sabe, estão pelas ruas da morte. Mas sempre estiveram, não há aqui novidade.
2. A segunda vitória foi para Cervantes. Depois de domingo, o dom Quixote substitui o dom Sebastião no nosso imaginário. O poeta, é Quixote – sendo os moínhos os senhores que com ele correram; o professor é Quixote, sendo os moínhos os que com ele correram dez anos antes; e até o comunista, neste Cervantes revisitado, é Quixote, travestido de Robin Hood, numa eterna luta contra os moínhos eléctricos – que pronunciam uma evolução indesejada.
Dito isto, pouco mudou. Cavaco Silva é o próximo Presidente da República, ponto final. Ganhou bem, ponto final. Porque era o melhor dos candidatos, ponto parágrafo. Mas o país, este país, continua o mesmo – com os mesmos defeitos, as mesmas virtudes. Fim de texto.
24 janeiro 2006
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