27 outubro 2005

Porque os pássaros não se podem ferir

"Numa ânsia de ter alguma coisa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar;
E a minh'alma perdida não repousa.

Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...

Mas a vitória fulva esvai-se logo...
E cinzas, cinzas só, em vez de togo...
- Onde existo que não existo mim ?"
........................................
........................................
Um cemitério falso sem ossadas,
Noites d'amor sem bocas esmagadas
-Tudo outro espasmo que princípio ou fim....

Escavação, Mário de Sá-Carneiro

E tão pouco faltaria para eu existir...

Sem comentários: