26 outubro 2005

Dedicado ao pássaro ferido

“Na região de Chiang-Shih, no estado de Song, há lindas florestas de plátanos, amoreiras e ciprestes. Acontece que, quando atingem dois ou três palmos de altura, algumas dessas árvores são cortadas para servir de poleiros; das que medem quatro ou cinco palmos, há algumas que são cortadas para fazer estacas e, das que chegam aos sete e oito palmos, muitas são serradas para tábuas de caixões. Assim, nenhuma destas chegou ao termo natural da sua vida, nem pôde desfrutar, do alto do seu cume, a imagem do mundo para a qual tinha sido criada e, a meio do seu destino, caiu sob os golpes do machado. Este é o perigo de se ser útil...”

Ichonan- Tseu, in Alçada Baptista, O Riso de Deus

3 comentários:

Anónimo disse...

acho que só seria justo se partilhasse conosco a interpretação desta citação...

Mira disse...

As árvores não têm capacidade de decidir consoante a sua vontade e consciência. As árvores têm o seu destino condicionado por factores externos, nomeadamamente aquilo que as pessoas lhes decidem fazer. A maioria da pessoas vive a sua vida como as árvores. São úteis. Nunca conseguirão atingir a suprema realização porque dependem consciente e inconscientemente de factores externos, materiais e imateriais. E essa realização, a que uns chamam felicidade, depende da coragem das nossas escolhas (fruto da nossa escala de valores). NOSSAS ESCOLHAS E NOSSOS VALORES, não a de outros. Quando não seguimos a nossa consciência e deixamos factores externos decidirem por nós estamos a cortar a golpes de machado a nossa realização. É o que muitos fazem quando aceitam preconceitos, pré-juízos ou se deixam influenciar nas bifurcações por outras situações pessoais que não a sua. E isto não implica viver do instantâneo e do efémero, nem é egoísmo. Porque anterior a isso estão os nossos valores e aos quais devemos ser sempre fiéis (mesmo quando a nossa vida passa por nos entregarmos aos outros,mas isso como escolha pessoal, livre, responsável, não condicionada, kantiana se queiserem). E este é o exercício da nossa condição mortal. E essa fidelidade é também a fidelidade a nós próprios, antes de tudo o resto. Só assim conseguiremos viver a nossa vida sem servirmos para poleiros, estacas ou caixões. Só assim poderemos ser árvores que chegam ao seu destino. Este é o nosso sucesso.Isto é sermos humanos. Para os crentes em Deus, isto é cumprirmos o nosso destino, em verdade connosco e com os outros.

...mas pensei que não era preciso explicar tudo!

Anónimo disse...

não é preciso... mas é bom.