09 dezembro 2005

Crucifixos



Tenho desde muito novo uma paixão por arte sacra. Em minha casa passeiam pelas paredes crucifixos de várias origens, registos com a mais variada onomástica. Numa cómoda antiga, mais ao fundo, misturam-se Santos António e Nª Senhoras da Conceição. Aqui e ali na parede encontram-se panos de sacrário e continuo a martirizar-me por não ter conseguido comprar umas portas de Baptistério que em tempos vi numa obscura loja de velharias no interior do país. A casa é minha. Sou Católico. Quem lá vai gosta, ou não, deste meu particular sentido estético. Confesso que me sinto confortável. Eu escolhi, eu decidi, eu decorei.

Tudo isto vem a propósito da problemática dos crucifixos nas escolas públicas e da alegada laicidade do Estado. Mas a questão que coloco é simples? As escolas que os nossos filhos frequentam são de quem? São do Estado ? Ou são da comunidade que decidiu em tempos passados criar uma instituição coordenadora dos recursos comuns a que se decidiu chamar Estado e que o alimenta com os seus impostos?

E se a decisão de imposição de exposição dos crucifixos a seu tempo tomada por Oliveira Salazar, aos olhos de alguns, possa ser considerada discutível, é igualmente discutível a decisão centralista e cega de os mandar retirar. Porque é que um orgão central decide tomar uma medida destas?

Dir-me-ão que é função do Estado zelar pelos interesses públicos? Mas quais são estes interesses públicos na questão vertente? Porque não são as comunidades educativas locais, constituídas por pais e encarregados de educação, a tomar essa decisão? Porque é que alguém sentado na 5 de Outubro, que não conhece a incidências particulares vividas em Mesão Frio ou Barrocão, tem legitimidade para mandar retirar um símbolo que pode ser importante para todos os membros dessa comunidade educativa?

A liberdade passa por aqui...pelo facto de pessoas livres decidirem livremente, e com legitimidade, sobre aquilo a que devem devotar as suas ideias, as suas atitudes e as suas acções., e não por alguém, ausente do campo de manifestação do campo de efeitos da decisão, decidir o que outros têm e não têm que fazer.

E as escolas de inspiração cristã continuam a formar os melhores alunos....continua assim Estado laico!!!

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