16 dezembro 2005

Magia

O Francisco - que escreve como eu sonhava escrever - deixou-nos um post delicioso sobre tvs dentro de tvs, livros dentro de livros. Diria mesmo vidas dentro de vidas. Eu, num curto intervalo de vida, enquanto aguardo por umas horas para estudar, li e reli o post.

(eu nunca devia ter parado de estudar, essa é que é a verdade)

Lembrei-me agora mesmo de uma daquelas imagens que, de quando em quando, me assustam. Assustam-me pela memória de uma adolescência curta, mas também porque aquela imagem, esta imagem, regressa à minha vida, sempre sem avisar.

Estava num daqueles episódios velhinhos do Twilight Zone, daqueles que se viam lá em casa, à hora de jantar. E mostrava um homem que se metia num comboio em direcção a sabe-se lá que destino.

(a ideia era essa mesmo, o destino imprevisível, incerto, que não se sabe nem importa - realmente não importa - para o que a história quer dizer).

Acontece que o homem, quando saía do comboio no tal destino, estava exactamemnte onde começou. E não, a linha não era redonda. Ele voltava simplesmente ao mesmo local, à mesma hora da saída. E isto aconteceu uma vez, duas vezes, três vezes. Em todos os regressos ao ponto zero, a única diferença é que o comboio, o seu comboio mistério com destino mistério, tinha cada vez menos viajantes. Na última viagem - não na última, apenas na última que nós vimos - ele, o homem do pensamento recorrente, está só. Rodeado por ninguém, apenas pelo medo e pela sua própria solidão.

O episódio acaba com um zoom out. Daqueles rápidos, só para nos dar uma imagem. E a imagem é a de um ser enorme, poderoso, lá bem no alto com o mundo aos seus pés, a movimentar um comboio por uma linha, até que o volta a colocar no ponto de partida, exactamente naquele ponto. Dentro dele só se vê uma sombra de qualquer coisa, meio perdida, atrás do seu destino (físico, não físico). Atrás de um sentido para qualquer coisa.
Quanto ao ser lá do alto, pode ser o que quisermos. Um Deus, um extraterrestre, simplesmente alguém que nos mexe no destino. Pelo menos é que me parece hoje, a esta hora.

Tudo isto porque tenho que voltar ao estudo. Foi um momento oportuno para dizer ao Francisco que gosto muito de o ler. Um abraço

2 comentários:

Anónimo disse...

E eu gosto de ser teu amigo.


FTA

Anónimo disse...

E vai ao clube de vídeo e aluga o Lost Highway do David Lynch. Vais gostar...


FTA