20 março 2006

A cenoura da direita

Faltam mais de três anos para que José Sócrates cumpra o seu mandato. Hoje, é quase unânime dizer-se que Sócrates é um bom primeiro-ministro. Mas é também precipitado dizer-se, a esta distância, que a sua continuidade no poder está assegurada para lá de 2009. Por outras palavras, a ambição pelo poder à direita - que terá capítulo decisivo em 2008, pode ter razão de ser.

Daqui até 2009, dois factores condicionarão o futuro deste Governo. O primeiro deles é inteiramente político. E é este: para impôr um programa de governação, para deixar uma marca no país, qualquer chefe de Governo tem que cumprir dois mandatos. Assim sendo, é fácil perceber que Sócrates será tentado a procurar a renovação do seu mandato, em 2009. Óbvio? Não tanto. É que o secretário-geral socialista conseguiu há um ano uma maioria absoluta – mas conseguiu isso em circunstâncias absolutamente inéditas. E, em 2009, Sócrates não terá alternativa senão em seguir os passos de Cavaco Silva e exigir uma maioria absoluta para continuar a governar. Ou seja, a sua fasquia não será de 37%, mas sim de 44% dos votos. O que abre novas possibilidades para os líderes que ficarem no PSD e no CDS.

Ora isto altera todas as condições destes três anos que faltam. Sócrates não poderá ser sempre um primeiro-ministro que compra guerras em vários sectores; e não poderá ser sempre o líder que pouco se preocupa com a política, tal como Maquiavel a desenhou, há vários séculos atrás.

É aqui que entra o segundo factor: a economia. E não há volta a dar ao facto: quando a economia teima em não crescer, não há maioria que resista (o desemprego cresce, não há dinheiro para distribuir, nem todas as promessas se podem cumprir).

É esta expectativa face ao crescimento económico e a extrema exigência do calendário político que mostra as perspectivas de poder que se abrem à direita. É por isso, também, que Marques Mendes quer ganhar tempo para impôr a sua liderança, assim como os seus potenciais adversários abrem espaço para o futuro.

1 comentário:

FT disse...

E se em 2009 Sócrates ganhar sem maioria absoluta? O que fará o presidente-apologista-das-maiorias? Convida a direita para formar governo?