13 março 2005

Falta de vergonha

As farmácias são dos melhores negócios existentes em Portugal. É certo que o Estado não paga a tempo e horas, mas as margens de lucros dos fármacos excedem em larga medida os prejuízos causados pelos atrasos. A Associação Nacional de Farmácias (ANF), com a ajuda da Ordem dos Farmacêuticos (OF), existe para fazer com que o negócio seja o mais lucrativo possível. Os interesses dos consumidores, ao contrário do que a ANF jura, não fazem parte das preocupações dos farmacêuticos.
As reacções da ANF e da OF à intenção de José Sócrates em acabar com o exclusivo das farmácias na venda de medicamentos que não necessitem de receita médica são reveladoras duma desonestidade intelectual a toda a prova. Eis os argumentos rasteirinhos:
1 - Comunicado da ANF: "Todos os estudos internacionais demonstram que os medicamentos devem ser apenas dispensados em locais que garantam a máxima confiança e sob aconselhamento directo dos farmacêuticos"
Nos Estados Unidos e no Reino Unido, por exemplo, a venda do tipo de medicamentos em causa está autorizada em hipermercados, supermercados, lojas de coveniência, etc. Nesses locais existem farmacêuticos que aconselham os consumidores. Os tais estudos "internacionais" devem ter sido feito em Portugal.
2 - Comunicado da ANF: "É no mínimo surpreendente a prioridade atribuída à medida" que "nunca foi reclamada pelos portugueses, em particular pelos doentes". A ANF deve viver noutro planeta. Todos os portugueses que, por causa de uma simples gripe, comprem numa farmácia um caixa de benuron, outra de cêgripe, um xarope e uma caixa de pastilhas para a tosse reclamam, e não é pouco, os mais de 20 euros que têm de pagar. É certo que os supermercados baixarão os preços, mas, enfim, já dizia alguém: "é a vida". Ou como diria outro mais recentemente: "habituem-se!".
3 - António Marques da Costa da Ordem dos Farmacêuticos: "Há estudos que evidenciam o desenvolvimento de doenças crónicas, sobretudo, hepáticas por uso excessivo de certos medicamentos". É pena que a unidose, que permitiria reduzir o consumo de medicamentos, não mereça o apoio público e empenhado dos farmacêuticos...
Espero sinceramente que a próxima medida na Saúde seja a aplicação da unidose.
José Sócrates começou bem.

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