11 março 2005

O que é o Cinema Português? – Preâmbulo: Breve introdução à história do cinema – Parte I.

Para que melhor compreendam a minha motivação na busca de uma resposta para a questão de fundo que serve de título a este post (e a outros que se lhe seguirão), acho importante fundamentar o meu ponto de vista, começando por debitar alguns aspectos que me parecem essenciais da história do cinema. Esta primeira parte será sem duvida a menos interessante, mas não posso contorná-la pois resume a origem da coisa em si.

A primeira exibição pública daquilo a que hoje vulgarmente chamamos cinema, aconteceu no dia 28 de Dezembro de 1895, no Salon Indien situado na cave do Grand Café, na Boulevard des Capucines em Paris. Os autores dos pequenos filmes projectados nesse dia eram os irmãos Auguste e Louis Lumiére. Foram também os inventores do Cinematógrafo, a máquina que lhes permitia captar, revelar e projectar as imagens dos seus filmes. Eram curtas-metragens, com cerca de dois minutos cada. As mais célebres deste período inicial são: “A saída dos Operários da Fábrica Lumiére” e “A Chegada de um Comboio na Estação de Ciolat”. Pouco tempo depois, Louis Lumiére, defendia que este fenómeno não era mais do que uma moda passageira e afirmou: “O Cinema é uma invenção sem futuro”. Louis só não profetizou uma verdade absoluta com estas palavras porque mais tarde havia de aparecer um tal D. W. Griffith. Mas ainda é cedo para falar dele.

Do outro lado do Atlântico, nos States, a “concorrência” era formada por Thomas Edison e o seu assistente William Kennedy Laurie Dickson. No fundo foi Dickson quem realmente desenvolveu todo o projecto, mas Edison é que levou os louros. A dupla Edison/Dickson concebeu duas máquinas. A primeira permitia apenas a captação das imagens, o Cinetógrafo que foi apresentado em 1889. Esta câmara já filmava em película de 35mm perfurada idêntica à que se utiliza hoje em dia. Em 1893 inauguraram comercialmente (ou não estivéssemos a falar dos States) o Cinetoscópio, a segunda máquina. Esta possibilitava a projecção das imagens, visíveis apenas de forma individual (e não colectiva, como as projecções na parede dos Lumiére). Isto porque o Cinetoscópio funcionava como uma espécie de peep show, em que se espreitava por um visor. Inserindo uma moeda na ranhura do Cinetoscópio, obtiam-se em troca 17 metros (cerca de um minuto) de filme. Dai que se considere que o cinema, como hoje o conhecemos, tenha nascido pelas mãos dos Lumiére e não pelas de Edison e Dickson.

Uma curiosidade: Os temas dos Lumiére eram genericamente de carácter documental. Cenas do quotidiano passadas em décors reais, normalmente exteriores. Em contra-ponto, Dickson filmava exclusivamente fechado no seu laboratório, o primeiro estúdio da história do cinema. Chamava-se Black Maria e era um barracão de madeira com o interior forrado a alcatrão. A Black Maria tinha uma particularidade notável. Para dar o máximo aproveitamento à grande clarabóia inclinada, que servia para iluminar o interior, rodava de modo a acompanhar o movimento do sol, maximizando o número de horas de luz necessária para filmar. Assim é curioso constatar como desde o seu nascimento o cinema trazia, acidentalmente ou não, marcada a sina do seu desenvolvimento conceptual. Uma Europa de décors reais e a América dos estúdios (sem que algum dos casos seja absoluto).

Anarcatólico

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