José Sócrates saiu ontem do Parlamento com um brilho nos olhos, como quem chegou, viu e venceu. Percebe-se porquê: até à data, o novo primeiro-ministro era apenas acusado pelo seu silêncio. Por isso, preparou meticulosamente as suas intervenções: apontou para o futuro, apelou ao patriotismo – ao recusar dirigir ataques aos governos anteriores –, apresentou prioridades e até calendarizou várias delas.
A satisfação de Sócrates pode, assim, ser compreensível. Mas cedo perceberá que o que encontrou nestes dias em S. Bento não foi mais do que uma ilusão de facilidades, um oásis sem um deserto à volta para atravessar.
Pois à frente desta maioria está, vamos ser honestos, esse enorme deserto de dificuldades. É verdade que tem uma maioria na AR, é verdade que tem o partido a seus pés, é verdade que até em Belém habita (até ver), um Presidente à sua medida. É verdade, também, que lhe caiu no colo uma reforma do PEC que parece feita de acordo com o seu Plano Teconológico.
Mas, para esta caminhada, não basta dizer chega a corporações poderosas, não basta apresentar planos de investimento, nem tão pouco falar de transparência e patriotismo. Tudo isso é bom e bonito, mas a situação do país – já o diziam António Vitorino e Jorge Coelho, que se ficaram pela bancada – exige muito mais do actual Governo: exige, por exemplo, medidas estruturais que reduzam a despesa. Exige, nesse caminho, que a má imagem criada por Ferreira Leite, enquanto responsável pelas Finanças, se multiplique por cinco. É que uma coisa é o que o país quer ouvir, outra, bem diferente, é o que o país precisa de ver feito.
Desta vez, não há ilusões. José Sócrates já disse que se dá bem com maratonas, mas ainda só o vimos fazer a meia-maratona de Lisboa. Vamos ver, agora, como resiste aos Jogos Olímpicos.
DE, 23.03.05
23 março 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário