27 maio 2005

Resposta ao Mau Tempo em 11 pontos

O Mau Tempo deu-me o argumento perfeito para explicar porque José Sócrates (leia-se, Campos e Cunha) cumpriu o seu papel com distinção na última quarta-feira. Vou tentar explicar porquê, contrariando o meu caro M.S.

Assim sendo, lá vai:


1. As medidas não são, "no essencial, positivas". São fundamentais para a subsistência do país.

2. Se não são corajosas, explica-me lá porque é que toda a gente sabia que tinha que ser assim e há anos que não se fazia. É que cumprir o dever é coisa que não se vê muito por aí - embora este ponto tenha mais a dizer - já lá vou.

3. Violar uma promessa não é bonito. Mas se leres o relatório do Banco de Portugal percebes que há no OE 2005 muita coisa perfeitamente inexplicável e imprevisível. Aqui, o PM tem razão.

4. Agora, tens razão no argumento de que podia ter estado caladinho e não ter prometido não aumentar impostos. Com um senão: com o Santana a dizer que os ia descer (era lindo, era), como é que ficava o Sócrates? Melhor - e sou pragmático: não o tivesse feito e lá ia a maioria absoluta. Sem a maioria absoluta, lá se iam as medidas absulutamente necessárias.

5. Irresponsável seria não ter feito isto.

6. Acrescentas, depois, que não há redução do Estado. Meu amigo, não estamos a falar de milagres, só de coragem. Sócrates é de esquerda, não de direita. E para um homem de esquerda, para te ser franco, parece mesmo de direita: olha, p.e., para as medidas na Segurança Social para perceberes porquê.

7.A Função Pública: tanto quanto percebi, Campos e Cunha não deixará o problema como está. Podes vir a ter razão, mas é melhor esperar para ver. Isso não é feito de um dia para o outro. Só passaram dois meses.

8. Ainda a Função Pública: a idade de reforma aumenta seis meses por ano, a partir de 2006. Podes até ter razão nas contas (não sei, não sou especialista), mas esta medida é muito, muito mais importante do que a outra. É que para reduzir a função pública só há uma maneira - ter as regras de qualquer empresa privada. Achas normal que não se possa despedir um incompetente na A.P.? Eu não acho.
Até lá, vamos ter que esperar. O que te digo é que isto, para início de conversa, já não é mau.

9. Voltando atrás: como se percebeu pelas reacções na AR, sem maioria isto teria sido impossível. A nossa democracia é, ainda, muito imperfeita. Imagina agora o que seria um tipo de direita anunciar tudo aquilo sem essa maioria.

10. José Sócrates, de qualquer forma, esteve muito bem ao que se tem chamado "encenação": sendo (teoricamente) de esquerda, pode dizer o que não seria permitido a mais ninguém - que sem estas medidas, o sector público tinha prazo de validade marcado.
Ou seja, ele diz que está a defender o Estado social com estas medidas. De certa forma, tem razão - mesmo que isso signifique a inevitabilidade do modelo liberal. E isso é bom que ele não ouça.

11. Para melhorar, juntou umas medidas politicamente correctas, só para ajudar à festa. Não concordo com algumas (as que afectam os políticos são más, a prazo, dada a qualidade de políticos que temos), mas ainda assim fez bem. Está a proteger-se como pode de uma coisa que, ele sabe, pode muito bem significar um enorme desgaste político. Eu quero acreditar que não.



P.S. Tou a escrever demais, bem sei. Mas este momento político dava um tratado.

3 comentários:

Anónimo disse...

Até podia dar um tratado, mas este post merece os parabéns. Claro, conciso e acutilante q.b.

Quem diria que esteve onde esteve, dr. DD.

Anónimo disse...

Há ir e ir, há ir e voltar.
O importante, no meio das marés, é não perder o rumo do nosso barco. Mesmo que seja pequenino, insignificante.

Anónimo disse...

Era há mar e mar, mas o sentido era o mesmo. Sorry.