Porque que é que o Reitor da grande UCP (Universidade Católica Portuguesa e não Unidade Cooperativa de Produção…senão o Magnifico Reitor chamar-se-ia Braga da Foice e não Braga da Cruz: uma pitada de humor britânico para mentes requintadas como as de V. Exas., coisa que me ficou do tempo vivido para lá do canal mas que não é muito apreciado em Portugal) tem que “palpitar” sobre a vida nocturna das cidades universitárias?
Mesmo que fosse politicamente correcto, será que um sociólogo dotado e reputado comete a leviandade de atribuir a um só factor a força de “causation” de um fenómeno complexo como este: será que a recta de regressão explicativa desta variável dependente (insucesso escolar) tem um contributo assim tão grande da variável saídas nocturnas? Qual a variância explicada Senhor Professor? Então e outros factores como a envolvente familiar, o envolvimento social, grupos de pertença e referência, estímulos para-laborais e motivações profissionais, a progressiva degradação da qualidade dos corpos docentes, a diminuição de financiamento disponível (quer público como privado) e por consequência de investimento? E será que o Senhor Reitor terá reparado que enquanto isso acontece ao nivel das licenciaturas, o “mercado (feia palavra para este sector)” de Pós-Graduações, Mestrados e Doutoramentos disparou e que nestes os niveis de aproveitamento e a qualidade da formação e dos formandos é bastante confortável? Terá o Magnífico Reitor reparado que curiosamente estamos a assistir a um fenómeno de maturidade tardia que se projecta sobre as licenciaturas e só se resolve por alturas dos 25 e das Pós-Graduações e Mestrados? Será que não estamos a querer que um sistema de ensino superior deficiente dê respostas suficientes quando não está preparado para isso? Em 1973 o sistema era um, passados 30 anos o sistema é outro completamente diferente…se calhar hoje em dia em termos relativos, temos niveis de excelência no ensino superior superiores àquilo que existia nos anos 70?
Senhor Reitor, isto são só suposições, porque enquanto cientista social exijo a mim próprio a corroboração ou refutação (sim,sim, à la Popper) das minhas hipóteses depois de um amplo debate de qualificação das mais válidas a serem testadas! Cientificamente recuso aceitar que V. Exa tenha proferida a afirmação que eu lhe ouvi sem ter provas irrefutáveis da veracidade da mesma…
…a menos que a afirmação tenha um sentido moral e, nessa circunstância não me cabe a mim criticar o Magnifico Reitor da UCP, apenas lamentar que ele se chame mesmo Braga da Foice ao contrário do que eu pensava e desejava; foice não por causa da “cooperativa de produção” mas porque pretende cortar rentinho os costumes e atitudes impróprios àquilo que acha o Reitor dever ser a monástica vida de universitário.
Mas o mais grave deste fait divers é que o Reitor está convencido do que disse, e na Reitoria da UCP centenas de pessoas lhe deram os “parabéns pela excelente entrevista e pela oportunidade, sabedoria e superioridade da análise apresentada”.
Senhor Reitor só para estragar a sua teoria deixe-me confessar-lhe que terminei a minha licenciatura com média de 16 valores, o meu mestrado com 18, e a parte lectiva do programa doutoral com 17 valores….durante este período de formação tive uma vida dissoluta saindo, bebendo, namorando, escrevendo, etc.. Só para estragar um pouco mais a sua teoria…parte da minha formação foi feita numa UCP deste nosso triste país. Como eu, posso contar pelo menos mais 5 a 8 colegas nas mesmas circunstâncias.
Tudo de Bom
06 outubro 2004
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