17 outubro 2004

A contra-reforma das metalidades

Meu caro LR,

acabei de ler o teu texto e quero acrescentar-te umas questões.

Dizes tu que precisamos de uma reforma das mentalidades. Muito bem, concordamos. É um passo decisivo para tornar Portugal um país democrático - que não é.
Mas acrescentas que vês sinais positivos, com o aparecimento de casos judiciais que entram em sectores difíceis, como a política e o futebol. Dois pontos sobre o assunto:

1. Quando a política reage como reagiu a «case-studies» como Felgueiras, Apito Dourado ou Casa Pia, que tipo de sinais são esses? Que me recorde, casos polémicos não faltaram no nosso país nas últimas décadas. Mas quais desses casos tiveram um final claro? Qual destes casos - os supracitados - chegarão ao fim?

2. Mesmo partindo do pressuposto que tens razão, será que o nosso sistema (diria Dias da Cunha) está a salvo de novas orientações? Ou seja, será que estamos a salvo que um qualquer novo poder consiga inverter um suposto caminho que estava a ser traçado?

Dirás, estou certo, qualquer coisa assim: "Lá estás tu, Ulisses, com o teu pessimismo". Talvez. Mas não estou certo que num país onde se excluem militantes de um congresso, ou onde se empurra uma televisão privada contra um comentador incómodo, não se possa igualmente fazer uma Justiça à imagem de Berlusconi. Com a diferença que, por cá, nada é tão transparente. É que este país é pequeno, mas os poderes são muito grandes. É tudo.

Um abraço,
e até sempre nestas páginas.
U.

1 comentário:

mfc disse...

São arremedos, é verdade.
Mas há sempre um começo para tudo.