19 outubro 2004

E porque não, Luís Osório?

O director da Capital, Luís Osório, fez a capa de hoje do jornal com um rotundo "Não", posto ao lado da fotografia de George W. Bush. Assumiu o que muitos pensam no país e no jornalismo português: tornou clara a sua posição - ligando o jornal que dirige à sua posição de princípio.

Tudo isto será muito louvável - se os jornais o fizessem sempre desta forma clara no que diz respeito ao seu próprio país, a democracia seria mais saudável. Mas, se lermos as justificações de Osório, talvez não seja tanto.

Luís Osório diz que não a W. Bush. Ok. E porque não? Porque estamos "numa situação limite" e porque Bush "coloca em causa os princípios básicos da civilização". Lê-se e não se acredita. Mais, diz-se que as políticas de Bush radicam num moralismo cristão, nacionalismo e "menorização do papel do Governo a nível social".

Isto, meu caro Osório, é não conhecer os EUA de hoje. Sem querer ir mais longe - não gosto de posts longos - gostaria de o informar que John Kerry, caso eleito, nunca será diferente de Bush em todos os defeitos o que lhe aponta hoje.

1. A América é um país conservador, com princípios morais (goste-se ou não deles) e um Presidente que actue de outra forma (da forma que a Europa de hoje gosta, ou seja, amoral e sem qualquer princípio básico) é um presidente condenado ao ostracismo. Para o perceber, aconselho um livro: "The Right Nation", de dois editores da Economist, vindos da Europa que partilhamos.

2. Depois, pense um bocadinho no que é um "perigo para a nossa civilização". Verá que entre os factores mais importantes está o preconceito e a falta de compreensão do outro. Se a velha Europa e a nova América o perceberem, acabando com preconceitos mútuos, mais fácil será construir um mundo em torno de consensos. E isso não aconteceu nos últimos quatro anos, com culpas dos dois lados da "barricada".

3. Quanto ao nacionalismo, simplesmente não é verdade: aliás, o que os seus colegas lhe poderão explicar é que Bush, depois do 11 de Setembro, virou um internacionalista - o que lhe é apontado como um defeito, como antes lhe era apontado o defeito do nacionalismo.

4. Por último, o papel social do Estado: aí Kerry é ligeiramente diferente de Bush. Deixo a discussão para mais tarde, mas lanço uma simples pergunta: onde é que o Estado Social português ajudou os mais fracos a crescer?
Termino, aliás, lembrando o Osório, mas também o Amílcar Correia (editorial de hoje do Público) de uma frase de um político norte-americano, lá pelos idos anos 60: "Quiseram fazer uma guerra pelos pobres. Os pobres ganharam".


Um abraço ao Osório,
D.D.


P.S. Já agora, meu caro L.O., não será pretencioso fazer da primeira opção do seu jornal um manifesto anti-Bush? Só faltava uma frase para ser pior: "Nós também devíamos votar". Uma sugestão: começe por aqui mesmo, tá bem?

1 comentário:

Anónimo disse...

Profeta !!!!!!!

ponte a escrevir de imediato outro ANTIGO TESTAMENTO