Professor Marcelo
Eu fui o primeiro a elogiar a forma superior, discreta e nobre como V. Exa. saiu daquele difusor de folhetins de Queluz.
Durante anos habituei-me a considerá-lo uma das pessoas mais lúcidas a comentar política nos media portugueses.Adicionalmente, porque tive oportunidade de privar com V. Exa., considero-o uma das mais brilhantes cabeças do Portugal democrático, quer em termos jurídico-políticos como em termos jurídico-administrativo.
Considero-o uma mente enciclopédica, com uma memória ciclópica, um poder de síntese hercúleo, e uma acutilância retórica própria dos tribunos romanos.
A sua inteligência cognitiva é provavelmente uma das maiores do nosso pequeno burgo; já no que respeita à sua inteligência emocional, ela é practicamente inexistente.Por essa razão, consigo comprender a sua arrogência e a sua superioridade intelectual para com a vulgaridade com que V. Exa. se tem que cruzar quotidianamente.
Posso compreender mas não posso aceitar. O respeito pelo ser humano nas suas mais diversas expressões e manifestações, naquilo que de ser humano ele tem, é o maior sinal de inteligência e humanidade.
A sua afirmação sobre a falta de qualidade de análise dos aprendizes de comentador político, ofendeu-me.
Ofendeu-me porque eu fui um dos primeiros a nível nacional a afirmá-lo, passadas poucas horas de V. Exa ter falado com a Lusa.
Afirmei, e volto a fazê-lo, que V. Exa. aproveitou o primeiro motivo que lhe apareceu (V. Exa. alegou um motivo de consciência ... esta ideia de invocar a consciência é a nova capa de quem não quer entrar em contraditório nem dar explicações....o Pedro Lopes também o fez no Parlamento para não responder às questões do BE do PC e do PS) para se retirar de uma situação de exposição pública que o impediria de prosseguir os seus objectivos políticos.
Repare o Senhor Professor que eu não referi a sua eventual candidatura à Presidência da República. Não o fiz por uma razão simples: porque o considero inteligente suficiente para saber, tão bem quanto eu, que ninguém o quereria para essa função depois das misérias que V. Exas anda a causar na Comunicação Social desde há vários anos.
V. Exa não ganharia Portugal tal como não ganhou Lisboa.
É todavia minha firme convicção que V. Exa vai entrar no jogo político a muito breve trecho. Vai mexer-se na arena e vai começar a actuar.
Não sei o que V. Exa irá fazer, mas a minha intuição behaviorista indica-me que a saída de cena de V. Exa. não é inocente. Tal como não o foram os seus comentários nos últimos anos...nenhum deles, e V. Exa sabe-o bem, foi inocente...visava um fim ou vários...e um sujeito...ou vários... e relativamente a este tópico permita-me Senhor Professor dar-lhe os parabéns, porque V. Exa. conseguiu atingir os seus objectivos em 96% das situações (no último ano em bloco A6 de folha branca todos os domingos apontei, à laia de exercício, aquilo que Marcelo queria com os seus comentários. Escrevia este meu texto e passadas semanas verificava aquilo que se tinha passado e avaliava e interpreteva a intenção e o sucesso do Professor...ça suffit comme explication cientifique!?).
É por causa desta falta de inocência das suas intervenções públicas que eu acredito que V. Exa vai fazer aquilo que anunciei. Tem que haver um valor mais alto do que os milhares de contos da TVI e do que a sua vaidade em se ver todos os domingos na caixinha, a mexer com a vida de milhões de portugueses e a dar cacetadinhas nos seus adversários. E esse valor, na minha humilde perspectiva, é a aquilo que o marca por dentro e que é seu traço de personalidade:
V. Exa. precisa de intervir publicamente para se sentir influente e importante, para ter impacto na vida das pessoas...precisa de ser apreciado, amado e idolatrado mesmo por aqueles que o detestam... V. Exa. é um daqueles que inveja Cunhal (a quem todos admiram pela coerência, pela firmeza, pela inteligência, pela coragem e pela argúcia; personagem que já tem biografia não autorizada, algo que V. Exa teve de fazer para si) pelo facto de ele ficar na história e não pelo facto de ter escrito ou dito qualquer coisita em programas televisivos ou na imprensa.
Com o que V. Exa fez até agora, V. Exa ficará apenas na história dos media e não na história política. E isso, embora o Senhor Professor não o queira aceitar, angustia-o e consome-o por dentro. Daí que , e atendendo ao facto do seu prazo de validade de actor político começar a chegar aos limites, V. Exa. necessita de intervir rapidamente. Como não pode ser numa TV (depois daquela homenagem do José Eduardo e sus muchachos não acredito que V. Exa vá para a SIC...e RTP nem pensar) tem que ser em todas e isso só se consegue marcando o Portugal político.
19 outubro 2004
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