Primeiro, a confissão: Mário Soares deu-me os melhores momentos do dia de ontem. A entrevista à TVI (muito bem, D. Constança) foi viva, interessante, política.
Passando ao que interessa, Mário Soares está a tentar reviver o seu combate político mais simbólico. Quer que Cavaco seja Freitas, quer que 2005 seja 1986. Não é. E esse é o primeiro erro estratégico do ex- Presidente. Nestas eleições a luta não é esquerda-direita - é de personagens. E também já não há Eanes, já não há bloco central, nem sequer o fantasma de Marcello Caetano para assombrar um candidato.
Dois. Soares ataca Cavaco, dizendo que este não é unânime à direita. Para tal, recupera os nomes de Paulo Portas e Santana Lopes. O primeiro, Soares dizia que era de extrema-direita, um perigo para a democracia; o segundo, dizia que era a vergonha do país. Agora, servem de barómetro para mostrar que Cavaco não é unânime. Pois bem, valha a coerência táctica, contra o deserto estratégico.
Três. Soares diz que deixou os "cofres cheios" a Cavaco em 1995. E que Cavaco é o "pai do monstro". E diz que Cavaco governou sempre em crescimento económico. Faltava dizer que quando isto não aconteceu, Soares não o deixou governar em paz - o que deve constituir um sério aviso a Sócrates, by the way, que não terá sorte com a maré económica. Quanto aos cofres cheios, só pode dar vontade de rir - mesmo que se reconheça o mérito de quem, sob pressão intensa do FMI, fez alguma coisa do que tinha de ser feito. O pai do monstro, esse, deixo para os especialistas em John Carpenter.
Quatro. Soares diz que Cavaco deixará em aberto o fantasma da dissolução da AR. Mas também diz que é independente do PS. E, já agora, que o PS chamou por ele. Ah! E que Sócrates é uma muito boa surpresa. E que os portugueses não podem perder direitos. Mas que os portugueses não podem manter regalias. So much for coerence.
A entrevista de ontem, perdoem-me a expressão, pode bem ter-me divertido. Mas confesso que me lembrou uma velha expressão britânica. Has been.
03 novembro 2005
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3 comentários:
Muito, muito bom!!!
olha sabes o que digo sobre a entrevista com o Mário Soares: faço minhas as palavras do Mantorras (que é um amor!): "SÓ TENHO UMA PALAVRA PARA DESCREVER O AMBIENTE NOS BALNEÁREOS: ESPECTÁCULO". Soares enterra-te mais com mais entrevistas destas... levas um lindo futuro ai levas levas! Nós agradecemos!
Boa prosa, David.
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