José Sócrates é um homem do mercado - um novo socialista que, como Soares no seu tempo, mete o dito na gaveta quando o progresso assim o exige. Sócrates é também um aliado dos empresários: fala numa nova confiança, em clima propício ao investimento, num país livre para a livre iniciativa dos empresários.
Fosse a vida assim tão fácil, José Sócrates só teria duas palavras a dizer à OPA de Belmiro sobre a PT: sim, senhor. Mas a vida, caro engenheiro, não é assim tão simples. E a OPA anunciada coloca vários dilemas a quem hoje manda no país. Sem ordem especial, aqui ficam alguns:
a) Se o Governo abdica da 'golden share' na PT, permitindo a Belmiro avançar com a OPA, não abdica dela só para Belmiro, mas para toda a concorrência. E lá virá a Telefonica espanhola, de Madrid às terras lusas, para a caça anunciada.
b) Se Belmiro avançar com a OPA à PT, terá provavelmente que abdicar da Vivo brasileira. E lá irá a Telefonica espanhola até terras do samba, dançando ao som do melhor Carnaval do mundo, com as caravelas portuguesas em retirada.
c) Já se o Governo vetar a OPA, terá que resolver outros tantos problemas. O primeiro é que travar Belmiro não significa, a curto prazo, absolutamente nada. Queira ou não o novo socialismo, a 'golden share' está na mira de Bruxelas e terá os dias contados mais depressa do que se imagina. E perder a hipótese (mesmo que insegura) de passar a PT para mãos privadas nacionais pode ser o canto do cisne de uma estratégia de protecionismo que nunca deu grandes frutos. É que, quando Bruxelas disser 'não' à 'golden share', pode já não haver um Belmiro para apanhar os cacos. E aí, lá está, a Telefonica não terá pejo em voltar à carga.
d) O outro problema de recusar a OPA é interno: como vai José Sócrates explicar aos investidores nacionais (e internacionais) que este país merece investimento, que o Governo é merecedor de confiança, quando esse mesmo Governo, esse mesmo país, se recolhem quando um grande negócio entra na agenda? Lá se vai a confiança, pois claro.
É assim que se explica o dilema de Sócrates, hoje, num tempo que o próprio definiu como "o início de um novo ciclo". E como é nas grandes alturas que se veem os grandes homens, é caso para perguntar, hoje mesmo: quem és tu, José Sócrates?
07 fevereiro 2006
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1 comentário:
Boa análise. Mais um bocadinho e mudas de secção...
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