23 fevereiro 2005

Comments ao "Notas soltas..."

Esta é a resposta possível aos desafiantes e simpáticos comentários que o post "notas..." teve.Num primeiro momento esta resposta esteve como comment, mas julgo que poderá suscitar novos desafios se este "contraditório" aqui estiver. Aqui vai

1-Em primeiro lugar agradeço todos estes simpáticos e "challenging comments". Com efeito há uma imprecisão relativamente ao processo espanhol e dou desde já a mão à palmatória no que se refere à AP. O CDS já não existe e a UCD fundiu-se de facto com a AP para dar origem ao PP.

2-E embora estes elementos necessitem sempre de precisão, aquilo que pretendi salientar com aquela nota foi a necessidade de credibilizar a direita portuguesa mediante um reposicionamento das suas propostas políticas ...algo que pode passar por um abandono dos actuais projectos partidários.

3- Relativamente à referência à intromissão do Estado na vida privada, começa desde logo pela descrença profunda da Esquerda nas iniciativas individuais e da necessidade da sua regulação pedagógica ou centralista a pretexto do bem comum. Ora eu não sei o que é o bem comum! E julgo que Rousseau, o inventor da designação, também não o sabia; para mim existem decisões que são tomadas pelos individuos sob o pano de undo de regras e normas de um certo modelo institucional que necessariamente tem de ser cumprido (já que é resultante da sua-modelo- adequação à resolução dos problemas enfrentados por aquela comunidade política).

Apresentemos o caso da Educação , área que ne é sensível: porque razão é que o Estado pensa melhor que a família? Acreditando que a educação das novas gerações é um bem público que tem externalidades boas e positivas para o funcionamento global da comunidade e que por essa razão todos devem ter as mesmas oportunidades no respeito por uma situação de equidade, porque razão é que tem de ser o Estado a decidir que tipo de organização as escolas devem ter, que professores devem lá estar, que projecto educativo as escolas devem ter, para que escolas as crianças devem ir? Porque não pode o Estado cingir-se a definir objectivos gerais e a verificar o cumprimento deses objectivos?

Pergunto eu: será que o Estado, essa pessoa de bem, deve substituir-se à família neste tipo de escolhas? Será que as famílias e seus indivíduos constituintes são piores decisores sobre o futuro das suas crianças que o "Estado"? Hoje em dia, como todos aqueles que têm crianças a estudar no sistema público sabem , o futuro das crianças é uma das peças que menos conta na organização da estrutura educativa...antes delas estão os interesses dos professores (defesa de feudo e manutenção de situações de favor e de incompetência), das DRE, dos sindicatos, das câmaras etc., e só depois os das famílias e seus membros. Isto só é possível porque a situação actual gerida pelo Estado o permite. E é estranho que em Lisboa e no Porto as Escolas Primárias e Secundárias que melhor funcionam são aquelas em que as associações de pais estão mais activas e travam batalhas brutais para defender os interesses dos seus filhos e um modelo educativo preenchido por valores seguros e de respeito.

Estas mesmas considerações podem passar para outros sectores como sejam a saúde, os transportes, a segurança social, as infraestruturas etc..

Ora aquilo que nós sabemos é que a Esquerda discorda desta visão...mas a visão que a Esquerda professa retira capacidade de decisão (por diminuição do leque de escolhas) aos cidadãos, obrigando-os a seguir, na maioria das vezes, aquilo que outros, na pacatez do assento nos ministérios, acreditam ser a melhor solução para conjuntos de pessoas que nunca viram ou sentiram de perto.

Nesta perspectiva, directa ou indirectamente, a Esquerda interfere na liberdade individual responsável e intromete-se por essa razão no campo privado diminuindo a capacidade individual de tomada de decisão.

4- Distingo 3 esferas de interesses e acção na vida do individuo em sociedade: pública, privada e íntima. No ponto anterior julgo que distingui as 2 primeiras; a esfera intima tem a ver com a campo da vida do individuo cujo exercício e acção não respeita a bens públicos e que na sua execução não interefere ou colide com a esfera intima de outros cidadãos.

5- Devo notar, todavia, que há cores de carros que me chocam e deveriam ser proibidas...esta é a única concessão que faço à interferÊncia do Estado na vida intima.

Melhores cumprimentos e muito obrigado

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro António Mira,
a resposta é satisfatória, embora lamente que não tenha sido mais preciso na segunda dimensão que referiu. O exemplo da educação é claro, mas ainda assim não prova que o Estado se tenha de demitir de algumas das suas principais funções. Penso também que o menor peso da sociedade civil em certas áreas (como as que referiu)se deve em 1º lugar aos próprios cidadãos, que não raras vezes se afastam das suas obrigações cívicas - o que não é de estranhar num país em que as pessoas quase só se indignam quando se trata de subsídios ou demais donativos monetários.
Quanto à intervenção estadual no aspecto "intímo", até o posso ajudar com um exemplo ligado a um tema "fracturante" lançado pela nossa esquerda: o tratamento jurídico para as uniões de facto, que, exactamente por serem de facto e não de jure, já que a sua razão de existir é a ausência de normas que as regulem, deveriam ser salvaguardadas de qualquer intervenção do gênero.
por último, reafirmo-lhe que o CDS espanhol ainda existe mesmo (com o endereço www.cds.es,para que conste) embora, como disse ontem, de forma residual e sem representação parlamentar.
PS: peço desculpa pelo incómodo "anonymous" que surgiu com a minha opinião de ontem, mas tive um qualquer percalço ao enviar o comentário.