09 fevereiro 2006

Cartoons e o relativismo moral

1. O relativismo moral irrita-me. É um caso de demência, inconsciência e irresponsabilidade. Por isso, aviso: não me venham com teses como "não podemos criticá-los, porque eles são uma cultura diferente". Podemos criticá-los porque sim. E, em casos particulares, podemos mesmo dizer que são atrasados – porque não há outra palavra para dizer a mesma coisa.

2. Há uma referência dos direitos humanos que é subscrita, imaginem, por alguns países islâmicos – para além de todo o Ocidente. Essa carta inclui o direito à vida e até o direito à propriedade. No segundo caso, foi flagrantemente violado por manifestantes pelo Médio Oriente, com nítida complacência dos Estados.

3. Uma coisa é dizer-se que os cartoons com a figura de Maomé ofendem os crentes no Islão. Outra é comparar isso a cartoons sobre o holocausto. No primeiro caso, a representação pode ofender; no segundo caso, presta memória à morte de milhões de pessoas, por um critério racial. No primeiro caso é mau gosto, até ofensa (em casos limite, não em todos); no segundo devia dar pena de prisão - ou extradição para países árabes.

P.S. Eu não queria mesmo falar disto, mas a discussão em Portugal já começa a chatear. Já agora, o ministro Freitas do Amaral devia convencer-se que já não anda em manifs. É, sim, representante de um Estado. Como tal, senhor ministro, não há coisas implícitas. A condenação da violência é, tem que ser, explícita e bem vincada.

2 comentários:

David Dinis disse...

Bela resposta, muito acertada em vários pontos. Aceito que liberdade e responsabilidade têm uma ligação umbilical. Eu próprio não faria o cartoon, nem tão pouco o publicaria. A alegada superioridade não implica, aliás nega, qualquer tentativa de subjugação ou o desrespeito pela cultura alheia.

Porém, meu caro Miguel, a responsabilidade e a liberdade têm - também umbilicalmente - uma outra noção acupulada: a possibilidade de fazer o que fazes e de, posteriormente seres responsabilizado por tal. Perante todos, como foi o caso.

O senhor que o fez tem, agora, um julgamento moral sobre ele. Não está em discussão. O que digo, e repito, é que uma representação de Maomé é triste, negativa, tendo em conta as ofensas a um povo. A representação do holocausto é mais: uma ofensa à humanidade - porque o direito à vida e à igualdade é um valor supremo, que nos levou séculos – a todos – a atingir.

Mais digo: o dr. Freitas do Amaral teria feito uma boa declaração. Bastava para tal acrescentar uma condenação aos actos de violência verificados, às mortes causadas por tais actos. Quem matou não foi o cartonista. Foram islâmicos, radicais, que têm menos respeito por nós todos do que o cartonista por eles.

Um abraço.
DD

Anónimo disse...

Liberdade = Responsabilidade.
Para os dois lados. Chama-se a isso civilização.
A isto, por sua vez, chama-se entendimento democrático.

Abraço.
DD