Ó Luís, estou zangado consigo. Quando o menino veio cá cima pedir o meu conselho sobre se deveria aceitar o cargo de Ministro daquilo que o menino é ministro, eu disse-lhe, e S. Bartolomeu é minha testemunha, "Olhe, só se fôr para fazer carreira séria, para ser bom político, e para ganhar algo mais, já que alimentar essas cinco bocas, como o menino tem que fazer, não é fácil e precisa de estabilidade".
Eu disse-lhe! Ai pois disse! Mas o menino não me ouviu! Senão me acredita veja: ainda agora foi empossado mas já começou a trabalhar, anunciou que ia fazer coisas e está mesmo a fazê-las, as suas comissões de inquérito começam logo a chegar a conclusões e a resultados, o menino apresenta com prontidão ao povo todos os resultados dos inquéritos, não sabe relacionar-se com os media e gagueja nas conferências de imprensa, os ambientalistas (aquelas coisas verdes por fora e vermelhas por dentro, de que tanto lhe falei) gostam de si, não entra nos jogos e nas brincadeiras dos outros meninos ministros.
ASSIM NÃO LUÍS!! Qualquer dia vai começar a recusar receber os empresários que lhe querem oferecer uns rebuçados para as suas crianças e para o partido. ASSIM NÃO PODE SER LUÍS!!
Se eu fosse seu chefe também ficaria incomodado com esta sua entrada de leão. O que vale é que o seu chefe gosta desse bicho, e acho, mas isto sou eu a pensar, acho que o menino ainda vai a tempo de salvar a face e manter este seu empregozito por mais algum tempo, já que nem é mau, e até fica próximo de casa e a Sofia gosta que o menino vá almoçar com os meninos a casa.
Sugiro-lhe, no entanto, que até à minha próxima carta, em que lhe tentarei dar alguns conselhos mais, não faça muita coisa. Encarecidamente lhe peço que seja discreto e que fale pouco em público nos próximos tempos...se tiver de o fazer, seja como os outros e não dê muito nas vistas, diga muito que sim, não se comprometa, dê uns quantos erros de português em todas as suas intervenções públicas, diga mal dos árbitros daquele desporto da bola, ah! e diga umas larachas sobre senhoras (ouvi dizer que o seu chefe gosta muito deste tema).
Falaremos muito em breve. Até lá fica um forte abraço deste seu tio muito amigo que o adora, António
Tudo de bom para si
13 setembro 2004
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