Meus amigos,
hoje fiquei com pena do ministro das Finanças. A sério que fiquei. Vejam lá que o coitado do rapaz (Sr. Rapaz, peço desculpa) fez ontem um comunicado – uma trabalheira! Diz ele nesse comunicado que para 2005 tem um «objectivo categórico»: um défice abaixo de 3%. E tudo porque o dr. Constâncio veio chatear a malta, num acto de pouca fé, dizendo que o défice do próximo ano tem mesmo de cumprir o PEC.
O problema – coisa pouca, para gente de fé superior – é que apenas há um mês o mesmo Sr. Rapaz tinha garantido que receitas extraordinárias não eram com ele, que gosta mesmo é das ordinárias.
Ora tudo isto levam-nos onde? Como diria o meu caro David (num post abaixo sobre a Turquia), leva-nos a uma expressão de um amigo meu, em bom inglês: «A lose-lose game». Ou seja, um jogo onde os dois caminhos possíveis são derrotas garantidas: em 2005, ou o Sr. Rapaz não usa receitas extraordinárias (apostando nas ordinárias), e aí nunca conseguirá um défice de 3%; ou o mesmo Sr. Rapaz consegue o défice de 3%, mas só mesmo com as tais receitas extra.
Agora perguntam vocês: isto não é uma chatice? Não. Sabem porquê? Porque o Sr. Rapaz ainda pode falar com o outro Sr. Rapaz e conseguir um milagre (fenómenos, esses sim, da sua preferência). O sujeito chama-se Pina Moura e está lá para a Iberdrola-Portugal (é ver o número nas páginas amarelas ou consultar o dr. Tavares).
O milagre é, afinal, bastante simples: conseguir um défice simpático, que não incomode muito, e mostrar umas contas mais ou menos fiáveis ao Eurostat sem que seja preciso qualquer receita não prevista.
Afinal, é só seguir o exemplo de Fátima: a Nossa Senhora não apareceu aos pastorinhos mais do que uma vez?
P.S. Pior, pior, é se, passado tanto tempo sobre as aparições, o Vaticano vem aí tirar-nos o Santuário. Aí é que não há milagre que chegue.
30 setembro 2004
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