01 novembro 2004

O federalismo dividiu o Insubmisso

Algumas constatações sobre a polémica que dividiu o Insubmisso nos últimos dias:

1. O próximo referendo sobre a integração europeia vai ser bem mais discutido do que se previa. Às vozes dos meus companheiros de blog (os outros estão, ainda, estranhamente escondidos) junta-se António Barreto, p.e., nas páginas do Público de hoje. O não vai crescendo, lentamente, e entre as elites nacionais. Ainda teremos algumas surpresas.
A todos eles, com o respeito que me merecem, deixo apenas uma pergunta: nas próximas legislativas, consideram votar no dr. Monteiro ou no dr. Louçã? É uma provocação, bem sei, mas como sabem são as duas únicas vozes cépticas, quanto ao assunto em análise, que o nosso espectro político comporta.

2. O JCC levanta uma questão séria: a utopia do desígnio de procurar o bem-estar. Diz ele, e bem, que é o mesmo fim do comunismo. Acrescento eu que o liberalismo tem uma pequena diferença: deseja o mesmo, mas através da liberdade de cada um, não através da sujeição desse sujeito a uma vontade centralizadora do Estado.

Ainda para o JCC, sublinho que não quero o fim de Portugal. Quero, isso sim, que as funções que já não desempenha (ou que desempenha sem que conte para nada) transitem - de forma firme, mas transparente - para uma entidade superior, eleita directamente. Falo da política externa (a nossa não conta, tida isoladamente) ou de finanças públicas, entendida em termos macro. Aqui, como sabes, Portugal estaria já bem lá no fundo se essas competências ainda estivessem nas nossas mãos.
Se as coisas, em campos como estes, são são efectivas ou são melhores nas mãos da UE, porque conservá-las de forma fictícia nas mãos de sabe-se lá quem?

3. Quanto ao AM, respondo o mesmo que ao JCC: tens ideia do que seria deste país se não tivesse tido a coragem de passar parte da sua soberania para uma entidade como a UE? Sabes o que vale a posição portuguesa, p.e., em política externa, se não fizer parte da UE? Sabes o que valeria hoje a economia portuguesa se parte dos seus instrumentos não estivesse nas mãos do BCE? Sabes o que vale a nossa política de Defesa, considerada isoladamente? A resposta é igual para todas as perguntas: nada. Eu prefiro um país que conte 1/25 de uma decisão importante a um país que conte 1/1 de uma decisão-zero. É uma questão de contas.

O meu ponto é este: o que vale Portugal fora da UE? E o que vale a UE tal como está? Queremos ou não, para bem de todos, uma UE mais forte, mais competitiva? Se não, qual a alternativa?

Mais: queremos ou não que a UE evolua para uma entidade responsável, onde a palavra de cada país conte realmente, uma UE com regras claras e democráticas? É isso que pergunto.


Abraços para todos,
DD.


P.S. Quando falo numa UE mais democrática não falo, obviamente, de processos como os da última semana. Gostava de saber em que país democrático do mundo um chefe de estado, depois de votado, aceita também levar a votos uma equipa que escolheu. Mais ainda, que chefe de estado aceitaria mudar um membro da sua equipa porque as opiniões pessoais dele não são aceites pelo pensamento único que afecta, cada vez mais, a política internacional do Ocidente. Essa não é a Europa democrática que quero. Porque essa não é uma Europa democrática, mas referendária e intolerante.

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